O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

19
Sessão de 12 de Março de 1923
ainda de aprender na hora derradeira do seu passamento.
Êsse homem, pela forma como viveu e morreu, demonstra a todos os republicanos que é absolutamente indispensável que a nossa consciência e inteligência tenham sempre um gesto de protesto contra essa lebre de luxo que a estas horas é em toda a parte do mundo a característica dominante para a hora social que passa.
Aos seus amigos e a todos nós, quási na hora derradeira, ao pé do seu catre, ainda Basílio Teles deu uma extraordinária lição.
Sr. Presidente: mais uma vez repito: lamento que a minha palavra não tenha a eloquência necessária, que a minha cultura não tenha o desenvolvimento preciso para poder condignamente, perante V. Ex.ª e perante o país, fazer a sua apologia.
Tenho dito.
O orador não reviu.
Foi aprovado o voto de sentimento.
A Câmara conservou-se em silêncio durante dois minutos.
Foi aprovado o requerimento do Sr. António Maia.
O Sr. Manuel Fragoso (para um requerimento): — Requeiro que seja prorrogada a sessão até se liquidar o assunto a que diz respeito a interpelação do Sr. Álvaro de Castro, ainda mesmo com prejuízo da sessão nocturna, se fôr preciso.
Foi aprovado.
O Sr. Ministro das Colónias (Rodrigues Gaspar): — Sr. Presidente: em certa academia latina um ilustre membro fez um dia uma comunicação muito interessante.
Em certa aldeia nascera uma criancinha que já trazia um dente, e o mais notável era o dente ser de ouro. Nomearam-se comissões, que se dedicaram ao estudo, do fenómeno. As leis mecânicas acudiram ao facto; a química veio também em seu auxílio, e, depois de longos relatórios, estavam todos admirados de que o ilustre homem de sciência que havia feito a comunicação não se importara, mais com o assunto.
Uma vez chamado, pasmou do trabalho feito, e, quando estranharam que êle tivesse abandonado um caso tam, interessante, explicou que a primeira cousa que tinha ido fazer era verificar se de facto tinha nascido a criancinha com o dente e se êsse dente era realmente do ouro. Pôde ver que a informação era falsa, e por isso não só deu a mais trabalhos.
Sr. Presidente: nesta interpelação há qualquer cousa de semelhante com o caso que acabei de relatar.
Parece-me que é melhor esclarecermo-nos se porventura se dá, de facto, a circunstância do ainda não estar o assunto de que se trata bem claro depois do largo debate que se tem travado entre coloniais tam distintos, que só esforçaram por expor os seus pontos de vista.
De onde veio um certo alarme produzido sôbre uma questão que é realmente importante?
O ilustre Deputado interpelante, mandando a sua nota do interpelação para a Mesa, veio logo a público com uma entrevista mostrar o quanto estava alarmado, e nessa entrevista, com letras gordas para que não passasse despercebida ao público, o alarme que tinha um grande valor, fez-se.
Se bem que o Sr. Álvaro de Castro, seja bem conhecido, fez-se uma apresentação de todas as suas qualidades, do modo que, quando se dizia que o público estava alarmado, o que se fazia era alarmar a opinião pública com o alarme, duma pessoa de categoria como é o Sr. Álvaro de Castro.
Ora eu pregunto: que vantagem haveria em alarmar a opinião pública contra um facto que não existia? Que vantagem haveria em dizer-se ao público: «Eu estou alarmado com a resolução de tal facto». E depois dizer-se a seguir: «Eu não acredito que tal cousa se fizesse"?
Sr. Presidente: o Sr. Álvaro de Castro disse, e muito bem, que não se tratava de pessoas, mas sim da análise de actos. Êsses actos considero-os eu actos políticos, e por isso quero declarar abertamente que reprovo em absoluto um tal sistema de ataque político: lançar alarmes na opinião pública, dando o aspecto de que se está numa política de favorecer situações em detrimento dos interêsses nacionais.
O ilustre Deputado interpelante é uma figura que tem direito a ser escutada