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Diário da Câmara dos Deputados
No Tesouro público não entrou uma libra como se diz num relatório que tenho presente.
Todo êste dinheiro foi para pagar juros a A, a B e a C!
Mas há mais. Nesse empréstimo dos tabacos, o próprio Estado tomou 90:000 das obrigações tomadas pelos banqueiros, mas sabem V. Ex.ªs em que condições?
As obrigações que tinham sido vendidas aos tomadores a 402 francos cada, cativas das despesas de emissão e propaganda, foram depois tomadas aos próprios banqueiros pelo Estado a 410 francos.
Quere dizer, o Estado foi o emissor do empréstimo, pagou as despesas e por fim foi o tomador.
O Sr. Velhinho Correia: — Foi o Crédit Lyonnais & Ca.
O Orador: — Não foi, não senhor.
O Sr. Velhinho Correia: — No opúsculo Planos financeiros, de Mariano de Carvalho, vem descrita essa operação.
O Orador: — Não sei se vem. Isto que está aqui é um documento oficial.
Ora, Sr. Presidente, trouxe êste incidente para dizer ao Sr. Ministro das Finanças que tenha cuidado e para mostrar aos nossos colegas monárquicos ^que não têm razão quando constantemente atacam a administração republicana.
Eu estou convencido de que êles tomam essa atitude porque da memória da maioria dos homens já se varreram os escândalos colossais da monarquia, o só por fraqueza consentimos que êles nos acusem, porque quem tem telhados de vidro não atira pedras ao do vizinho, e os telhados de vidro da monarquia constitucional são dum tamanho enorme.
O Sr. Paulo Cancela de Abreu: — Não chegam aos dos Transportes Marítimos.
O Orador: — Isso é uma cousa insignificante em relação aos escândalos praticados pela monarquia.
O Sr. Carvalho da Silva: — V. Ex.ª dá-me licença?
V. Ex.ª diz que o contrato dos tabacos foi ruïnoso. Mas eu peço a V. Ex.ª que me diga se os encargos resultantes da depreciação da moeda, que é obra da República, não excedem em muito o que de mau pudesse ter o contrato dos tabacos.
Àpartes.
O Orador: — Os encargos dos tabacos pesam como uma barra de chumbo na situação actual, pois no ano corrente andam à volta de 70:000 contos, e pesam na consciência nacional como um acto de burla praticado pelos homens da finança para com o Estado.
Mas o que pretendo eu, quando venho ao Parlamento denunciar factos desta ordem?
Quero demonstrar que os homens da República não praticam actos iguais aos que foram praticados no tempo da monarquia.
Àparte do Sr. Carvalho da Silva que não se ouviu.
O Orador: — Perdão. Eu comecei por afirmar que o homem que tinha assinado êste contrato era um homem de bem. Eu não quis emporcalhar um homem da monarquia quando citei êste facto, mas o que pretendo é quê o Sr. Ministro das Finanças proceda de forma a não cair numa situação igual a esta.
Sr. Presidente: não vale a pena fazer uma demonstração das causas que determinaram a actual situação do nosso país, e das determinantes da desvalorização da moeda. Todavia, não tenho receio de o fazer em ocasião oportuna, com inteira imparcialidade e justiça.
Já o tenho dito e repito: há erros praticados pelos homens da República, mas, no emtanto, não há crimes, nem roubos, nem adiantamentos escondidos.
Eu não tenho por hábito insultar ninguém, mas dói-me quando se é injusto. E preciso que não esqueçamos que no tempo da monarquia se escrevia: «Ladrões não se encobrem de graça».
Essas acusações eram tremendas e vieram a provar-se, e eu tive ocasião de ver, quando procedendo a um ajuste de contas na Direcção Geral da Tesouraria, que havia adiantamentos escriturados como encargos da dívida flutuante.
Vozes: — Ouçam, ouçam.