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Diário da Câmara dos Deputados
Mas a instrução militar não pode limitar-se às escolas de recrutas.
Cada regimento, ou cada unidade, deve, ser uma escola militar, em que todos os oficiais trabalhem, dedicando-se ao aperfeiçoamento dos serviços.
Nessas unidades devem os oficiais, dia a dia, completar a sua instrução, adquirindo novos conhecimentos pelo contacto de uns com os outros e através de conferências e trabalhos orientados pelos respectivos comandantes.
Em vez disso, entre nós, as guarnições militares, onde se devia trabalhar dêste modo, em termos de os oficiais não terem senão um escasso descanso, fazem dos regimentos um lugar de comodidade para os oficiais.
Resulta desta falta de instrução e da carência mais absoluta de material, que o exército em Portugal actualmente se reduz quási a um organismo que funciona no Terreiro do Paço que só tem servido para aumentar o pessoal, com detrimento do que se devia gastar em instrução e material.
Quere isto dizer que se deve encarar esta questão de frente, não a adiando sucessivamente, do modo a constituir uma ilusão em que se faz viver o País, que contribui para o exército e que assim não pode encontrar no exército aquele apoio que nele devia ter.
Assim como o Sr. Ministro das Finanças já iniciou uma política tendente a melhorar o nosso estado financeiro, assim como no Ministério do Comércio também há já uma larga orientação de política económica, que deve ser seguida, assim como no Ministério das Colónias se adoptou uma política colonial, urge que no Ministério da Guerra se adopte uma política militar.
Infelizmente ainda teremos de esperar algum tempo pelo início dessa política.
Portanto, havemos ainda de ver durante algum tempo pesar no orçamento inutilmente o pessoal, emquanto que por outro lado se descura a instrução do exército inscrevendo-se no orçamento 800. 000$ que para nada chegam.
Assim, a não se iniciar essa política militar, absolutamente instante, teremos de nos resignar a que o exército continue no mesmo caminho, embora com o protesto meu.
Disse o Sr. Pereira Bastos que era legítima a ambição de mandar nos oficiais, justificando se o seu desejo de serem promovidos.
Não estou de acôrdo neste ponto, com o Sr. Pereira Bastos.
Êsse desejo e ambição seriam legítimos, se os oficiais os pudessem alcançar, satisfazê-los através de um esfôrço permanente de aperfeiçoamento profissional.
Mas êsse trabalho é que não existe no exército.
Essas promoções só se deviam alcançar pelo trabalho constante.
Se se obrigasse os oficiais a trabalhar, o seu esfôrço daria lugar à selecção.
O Sr. Pereira Bastos: — Mas dando-lhes os meios.
O Orador: — Êsses meios também os reclamo, Sr. Presidente, pois a verdade é que se não pode admitir que um dêstes factores esteja a prejudicar o outro.
Torna-se, portanto, absolutamente necessário reduzir o pessoal, deixando lá ficar aqueles que trabalham, aqueles que possam per bons militares, pois a verdade é que todos aqueles que assim não sejam não podem ser considerados como bons cidadãos.
Sr. Presidente: vou terminar as minhas considerações; e, felicitando a Câmara, pelo interêsse que êste debate revestiu, faço votos para que o assunto seja encarado de frente, de forma a que o país possa ter um exército capaz de bem o defender.
Tenho dito.
O discurso será publicado na íntegra, revisto pelo orador, quando, nestes termos, restituir as notas taquigráficas que lhe foram enviadas.
O Sr. Aires de Ornelas: — Sr. Presidente: devo dizer, em abono da verdade, que não veio possibilidade de definir com mais energia o estado em que se encontra o exército do que o fazem os dois relatores dos dois pareceres que, sôbre o orçamento do Ministério da Guerra, nos foram distribuídos.
Eu creio, Sr. Presidente, que, quando se classifica de aterradora a cifra a que sobem as despesas militares, quando se classifica de anarquizante a orientação se-