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Sessão de 27, 28, 29 e 30 de Junho de 1923
guida com as promoções, quando se declara que o exército para pouco serve, nada mais se pode dizer.
Eu não sei realmente, Sr. Presidente, o que mais será preciso dizer para definir a situação actual do exército português.
A cifra aterradora das despesas militares não existe, visto que a administração militar não se fiscaliza a si própria, sendo a maior parte dessas verbas, as mais despropositadas do orçamento, devidas a fardamentos, a rações e passagens, o que nos leva à conclusão de que um exército assim, para pouco serve.
Entrando, Sr. Presidente, na apreciação discriminada das diversas verbas de despesa, chegamos à conclusão da superabundância das despesas supérfluas e inúteis, em confronto com as que são aprovativas, pois não faz sentido, Sr. Presidente, que se gastem para cima de 200 contos com um instituto de meninas, quando aparecem 9 ou 12 contos, para reconhecimentos militares.
Sr. Presidente: nós vamos ver que o número dos oficiais supranumerários é igual ao dos quadros, e daí também, Sr. Presidente, a situação alarmante em que se encontra o exército, e a absoluta necessidade que há de reduzir as despesas.
Nada se tem aperfeiçoado e melhorado, e só os quadros têm crescido por forma que para os pagar é preciso suprimir os soldados.
E, assim, os pareceres constatam ainda que êsses quadros superabundantes, nem a si próprios se instruem, por pletora, nem aos outros podem instruir, por falta.
Vê-se claramente, Sr. Presidente, que, dos ensinamentos da Grande Guerra, lição alguma foi ainda aproveitada no exército.
Há ensinamentos, Sr. Presidente, que só lentamente podem ser tornados profícuos; mas nem assim se procuram aplicar, sendo o exército português, creio eu, o único dos da Grande Guerra, cuja constituição não sofreu ainda uma só das modificações que ela quási taxativamente impôs.
Referindo-me, Sr. Presidente, à aeronáutica militar, ainda há pouco aplaudida pelos membros desta casa do Parlamento, e com razão, eu direi que a tentativa da viagem à volta do mundo dará por certo novo realce ao nome português.
Isto basta, Sr. Presidente, para que nem eu nem êste lado da Câmara lhe possamos regatear os nossos louvores.
Porém, isso não impede que eu sinta não ver ou saber estudar o que eu reputo da máxima importância para o futuro da nossa vida nacional.
Refiro-me, Sr. Presidente, à ligação aérea da metrópole com as colónias africanas, por meio de linhas periódicas e regulares; pois; estou certo de que possivelmente se podiam aproveitar as escalas Madeira, Cabo Verde, Guiné, Congo e Loanda, atravessando a África e estabelecer a ligação com Moçambique.
Reputo isto, Sr. Presidente, muito mais útil e muito mais proveitoso do que a viagem à volta do mundo, sem querer no emtanto com isto censurar por qualquer forma a idea dêsses dois grandes homens que estão acima de tudo o que eu não posso deixar de admirar.
A razão por que estamos numa situação melindrosa não é porque não se nos reconheça nem qualidades de coragem nem qualidades mentais, como é costume agora dizer-se, mas porque nos falta aquela política que se pode reduzir à palavra juízo. Não mostramos muitas vezes na nossa administração nem no nosso modo de proceder político aquele bom senso que caracteriza os povos que tem juízo, e eu estimaria mais que mostrássemos essas qualidades não só cá dentro mas lá fora, porque muita da confiança que falta para os nossos compreendimentos provém de se nos reconhecer essas qualidades do que envolver o País em emprêsas de largo alcance e que directamente para o interêsse e proveito nacional não vejo qual seja a vantagem a tirar.
Sr. Presidente: é certo que os dois relatórios do projecto em discussão são absolutamente unânimes em concordar na necessidade da reforma das instituições militares, reforma que, suponho, representa uma aspiração nacional, pelo menos de todos aqueles que se interessam pela defeza do nosso País. Se me fôsse permitido juntar a minha voz à dos Srs. relatores eu chamaria muito especialmente a atenção do Sr. Ministro da Guerra para êsse facto, preguntando ao mesmo tempo: está qualquer cousa em preparação?