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Diário da Câmara dos Deputados
criado, até êste ponto, uma má vontade do país contra o exército.
Eu, Sr. Presidente, não faço estas declarações para censurar ninguém; mas sim porque entendo que é essa a minha obrigação, desafrontando aqui uma classe que se não pode defender neste lugar.
Diz-se, Sr. Presidente, que a critica é fácil, mas que a argumentação é difícil; porém, eu devo dizer que está na nossa mão remediar êsse mal, procurando trabalhar.
Procuremos, Sr. Presidente, saber quais as necessidades do País, qual o organismo que mais convém à sua defesa, a fim de com os elementos que temos podermos fazer alguma cousa de útil.
Falou-se aqui, Sr. Presidente, na falta de trabalho de diferentes organismos militares; e a isso devo eu dizer que necessário se torna saber quais os elementos que êsses organismos possuem para trabalhar, e saber a situação em que estão, isto é, se podem ou não trabalhar.
Não basta dizer que não trabalham; é preciso saber-se se podem ou não trabalhar.
O exército de um país deve estar em harmonia com a sua política internacional. Segundo o objectivo nacional, assim devemos organizar a sua fôrça armada. A política internacional de um país depende de várias cousas. Em primeiro lugar, depende da política geral de todo o mundo e muito especialmente do continente onde êsse país se encontra; em segundo lugar depende das suas relações internacionais, e em terceiro lugar do valor económico do mesmo país.
Nestas condições o valor da fôrça armada do país deve estar em harmonia com estas necessidades.
E quem é que dirige a política de um país?
É por acaso o estado maior do exército que sabe qual é a política e objectivos internacionais do país?
O responsável pela política do país é o Govêrno.
O Govêrno é que deve dizer ao estado maior qual o objectivo nacional para êsse estado maior organizar as suas fôrças armadas no sentido de serem mais consentâneas com a política do país.
Em geral vemos nas relações ministeriais, no que diz respeito à política internacional, dizer-se que seguimos a política tradicional da aliança inglesa. Isto diz tudo, ou não diz nada. Sob o ponto de vista de se organizar a defesa nacional não diz nada.
Se Portugal algum valor tem no conceito das nações, êsse valor vem da sua situação eminentemente estratégica, da situação geográfica do continente, das suas ilhas e das suas colónias que o tornam um ponto eminentemente estratégico, ponto indispensável para a vida de algumas nações.
Se olharmos de facto à situação geográfica de Portugal, se quisermos estudar o que é o célebre triângulo estratégico de Portugal, continuado pela Madeira e Cabo Verde, vemos que Portugal tem posição para garantir â chave do Atlântico.
No caso de um conflito na Europa, Portugal pode decidir-se para um lado ou outro, e intervir de maneira eficaz na decisão dêsse conflito.
Mas o que é preciso?
É tomar as posições que são orgânicas, municiando-as convenientemente e meter êsses valores dentro do organismo da defesa.
Se tivermos devidamente organizada essa defesa, se elas constituírem uma grande base de submarinos, de aviões, com artilharia de costa, está suficientemente garantida a defesa durante três ou quatro dias, para intervir, para um ou outro lado.
Emquanto não tiver organizada a defesa, Portugal não pode livremente escolher, Portugal não pode negociar a sua intervenção.
É êste ponto de vista que quero apreciar; e a meu ver é um dos pontos que deve ser fixado.
Porque se nós passamos a nossa vida inteira a discutir, se havemos de ir para a guerra ou não, alheando-nos por completo de tudo quanto se passa na política internacional, abstraindo-nos por completo dos conflitos que se podem dar, ou dos acontecimentos, quando êsses acontecimentos se realizam encontrando-nos desprevenidos, não podemos negociar a nossa neutralidade ou intervenção.
E eu pregunto: o que dá mais valor à fôrça armada de Portugal, se a organização de um exército metropolitano importante, ou a organização sólida de to-