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Diário da Câmara dos Deputados
Permita-me o Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros que inverta a ordem, das minhas considerações para me referir ao problema das reparações.
S. Ex.ª disse que o assunto lhe impunha a reserva diplomática. Sem dúvida que em determinadas negociações possa haver, em certo momento, falando sôbre certos assuntos, melindres de natureza diplomática. Mas não pode haver êsse melindre sôbre o problema das reparações.
A França pode não estar ao facto das negociações ocorridas, mas sabe qual é a sua política e as aspirações do seu govêrno.
Não venho invocar qualquer circunstância de reserva, que tenha sido mantida, para justificar as minhas opiniões.
O que não sei é como se possa justificar a afirmação feita por S. Ex.ª quanto à situação das pequenas potências.
Permita-me S. Ex.ª que lho diga que isso não é verdade;
Á situação de Portugal entre as pequenas potências é única.
As pequenas potências são todas devedoras da. França.
Nós só devemos à Inglaterra.
A França definiu a situação e declarou que as dívidas da guerra tinham uma característica excepcional em relação às outras dívidas.
Qual é, pois, a situação de Portugal?
A Inglaterra encara o problema da nossa dívida como o encarou a França, que pôs nitidamente o problema.
Mas a nossa situação é diferente como disse.
Esta questão das reparações é tam grave, que é o eixo de toda a nossa política externa neste momento.
Eu não ando a pedir publicações de artigos pelos jornais, e por muito meu amigo que fôsse o Sr. Dr. Augusto de Castro, para me ser. agradável, não publicaria um artigo que a Câmara decerto conhece.
Eu bem sei que em política não se procede às sacudidelas.
A Inglaterra mostra desejos de caminhar unida na questão das reparações, pode no emtanto amanhã negociar separadamente.
Àpartes.
Mas a Inglaterra pode pedir-nos o pagamento da nossa dívida.
Pregúnto: é isto uma cousa que seja indiferente à vida da Nação? £ É isto indiferente à política externa dum Govêrno? É isto alguma cousa que possa envolver qualquer melindre o explicá-la à Câmara?
Acaso o Govêrno tem a certeza de que quando a Inglaterra, como represália para com a França, fôsse negociar separadamente com a Alemanha, se é que vai negociar, ela respeitaria os nossos direitos?
Acaso o Govêrno tem a certeza de que, se um dia a Inglaterra tivesse de exigir as dívidas de guerra à França, ela não exigiria igualmente as dívidas a Portugal?
Acaso será isto diminuir em qualquer cousa o nosso Govêrno perante a Inglaterra?
O Sr. Ferreira de Mira: — V. Ex.ª dá-me licença?
O primeiro Ministro inglês, discutindo à mesma hora do dia em que discursava o Sr. Ministro dos Estrangeiros, dizia na Câmara dos Comuns que estava pronto a assumir a responsabilidade por si só da resposta a mandar à Alemanha.
O Orador: — Verifica-se, portanto, que á Inglaterra tenta um último esforço, mas tenta-o como uma espécie do sacudir responsabilidades, tenta um último esforço e acção combinada com a França, mas está disposta, porventura, a tratar directamente com a Alemanha. E em que posição estamos nós neste momento? Pensará a Inglaterra em tratar exclusivamente de si ou tratar também de nós?
Então não temos o direito de perguntar tudo isto?
Sabe V. Ex.ª, Sr. Presidente, qual foi a minha convicção quando ouvi a resposta do Sr. Ministro dos Estrangeiros, feita, aliás, com aquele brilho que é próprio da sua inteligência, mas com um cuidado extremo em não dizer uma palavra?
Cheguei a pensar que se tinha cometido o crime de não se terem entabulado negociações com a Inglaterra, que, porventura, a esta hora nem uma simples nota se tivesse trocado com o Govêrno Inglês para garantia de que êle não deixaria de respeitar os nossos direitos.