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Diário da Câmara dos Deputados
Ora, Sr. Presidente, se assim é, e é com certeza como pode o Sr. Ministro do Interior encontrar um ambiente favorável aos seus desejos por parte da oposição?
O Sr. Presidente do Ministério caiu no País como um Messias, S. Ex.ª ia resolver a questão política portuguesa dentro da República, ia com os seus largos voos fazer com que entrássemos num caminho diverso daquele que vínhamos trilhando. Mas, Sr. Presidente, como para isso era necessário, antes de tudo, a estabilidade ministerial, eís o ministério do Sr. António Maria da Silva sempre em pé.
E, porém, necessário ver que a opinião pública já se encontra desiludida e compreende que estaria bem a estabilidade ministerial se nas cadeiras do Govêrno se sentassem homens de acção capazes de efectuar uma obra económica e financeira que trouxesse o ressurgimento do País.
Sr. Presidente: o sussurro na sala é tanto que sou levado a preguntar se sou eu que falo para a Câmara ou se são os Srs. Deputados que falam para mim.
O Sr. Presidente (agitando a campainha): — Peço a atenção da Câmara.
Uma voz: — Quando se faz obstrucionismo não há direito a pedir a atenção da Câmara.
O Orador: — Protesto, Sr. Presidente. Eu não estou fazendo obstrucionismo. Tenho estado a argumentar com factos e com ideas. Estou demonstrando que nem o Govêrno, nem a maioria têm razão para quererem que se prorroguem os trabalhos parlamentares.
Apoiados.
Dizia eu, criticando a acção do Sr. Presidente do Ministério, que S. Ex.ª se agarra a determinado bordão para vir por aí fora com a sua barcaça ministerial e de vez em quando ainda S. Ex.ª e os seus partidários nos brindam com os quadros pavorosos dos movimentos revolucionários, que não sei o que são, nem donde vêem, e nem mesmo pretendo sabê-lo.
O que eu quero frisar é que acho vexatório para a fôrça armada a afirmação de que grupos civis andaram, armados, de noite, vigiando a casa desta ou daquela entidade.
Pregunto eu ao Sr. Ministro do Interior se a guarda republicana, a polícia, dum modo geral, a fôrça armada, já não é bastante para manter o Govêrno, sendo necessário recorrer aos grupos civis.
Lavro o meu protesto contra esta forma de governar. Se a guarda republicana não desempenha bem a sua função, isso é outro caso; mas, note V. Ex.ª, que não estou convencido disso.
A guarda republicana, em Lisboa, está devidamente organizada e é constituída por elementos dedicados à República, podendo, portanto, prescindir-se da acção dos grupos civis armados não sei por quem.
Então é ainda por isto que o Sr. Presidente do Ministério quero a prorrogação dos trabalhos parlamentares?
Não, Sr. Presidente, não pode ser.
Sr. Presidente: não querendo repetir o que já por outros oradores aqui foi dito, relativamente ao Sr. Ministro das Finanças, é chegado o momento de preguntar ao Sr. Presidente do Govêrno o que é que o Sr. Vitorino Guimarães fez depois que eu e outros Deputados chamámos a sua atenção para a falta de numerário que se notava no País, a ponto de dificultar a execução de determinados problemas da nossa vida económica.
Pedimos ao Sr. António Maria da Silva que dêsse conhecimento do caso ao Sr. Ministro das Finanças, mas o que é verdade é que S. Ex.ª até hoje ainda não se deu ao trabalho de vir a esta Câmara dizer o que sôbre o assunto se lhe oferecia e quais as medidas que ia tomar.
Sr. Presidente: estamos fartos de ver as medidas salvadoras do Sr. Ministro das Finanças. S. Ex.ª que vive em Lisboa, cercado quási sempre dos seus amigos, não conhece as constantes reclamações que por êsse país fora se levantam contra o modo como está gerindo a pasta a seu cargo.
Toda a gente sabe que o empréstimo, uma das medidas salvadoras do Sr. Ministro das Finanças, foi o fracasso mais completo da orientação financeira do Ministro Sr. Vitorino Guimarães.
Interrupção do Sr. Júlio de Abreu, que se não ouviu.