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Sessão de 25 de Outubro de 1923
Sr. Presidente: nós não somos crianças. Medimos o alcance dos nossos actos, medimos o significado de certas colaborações, sobretudo quando elas são prestadas por personalidades da envergadura do Sr. Barros Queiroz.
Sabemos que colaborar é um sacrifício, é perder terreno.
O Sr. Barros Queiroz prestou-se a êsse sacrifício, que só o dignifica, porque se verificou que, se S. Ex.ª não tivesse estado na comissão de finanças, as propostas salvadoras tinham morrido ali sem mais nada.
O Sr. Carvalho da Silva: — Registamos a declaração.
O Orador: — V. Ex.ª pode registar o que quiser.
Eu não estou só a falar para V. Ex.ª, estou a falar para a Câmara e para o País.
Mas, continuando, e depois de tam agradável registo do Sr. Carvalho da Silva, que amanhã nos dará o prazer de o fazer glosar no Correio da Manhã, depois dêsse registo, permita-se-me que tire dele o significado.
O Sr. Barros Queiroz propõe que não se deixo morrer totalmente a iniciativa.
A proposta ministerial, essa morreu, afundou-se, sem ninguém lhe estender a mão.
E êsse ninguém era a maioria dos Deputados da maioria dessa comissão; porque da oposição nacionalista estava apenas o Sr. Barros Queiroz, como presidente da comissão, cumprindo nobremente o seu dever.
^O que sucede então?
Dos escombros da proposta ministerial faz-se nascer um projecto que o Parlamento dirá se é ou não aceitável e, por êste serviço, o que se faz ao Sr. Barros Queiroz e à minoria nacionalista?
Faz-se aquilo a que, empregando uma frase popular, se chama dar com os pratos na cara.
Quando o Sr. Presidente do Ministério, com aquela sua facilidade de frase, falou nos planos dos seus colegas, eu olhei para o Sr. Vitorino Guimarães.
Não sei se S. Ex.ª ficou ou não impassível.
É tam difícil traduzir os sentimentos
que vão na alma de cada um, e a sua interpretação pode, por vezes, ser tam contrária à verdade, que não sei se S. Ex.ª teria tido um estremecimento de indignação, se um estremecimento de cólera, se um estrecimento de riso.
Desafio a pessoa mais arguta, mais experimentada em decifrar oráculos de Delfos a conseguir compreender o que o Sr. Presidente do Ministério quis dizer.
S. Ex.ª pegou em dois números que tinha na cabeça; misturou-os, confundiu-os, enguliu-os, deitou-os cá para fora, e a gente ficou sem perceber cousa nenhuma. Que pretendeu S. Ex.ª com as suas afirmações?
Vou procurar adivinhá-lo, no meio da confusão das suas ideas sôbre os planos dos seus colegas do Ministério.
Vejamos se consigo apreender o seu pensamento.
O Sr. Vitorino Guimarães tinha declarado ao País que era contrário ao aumento da circulação fiduciária tal qual como todos nós.
Mas o Sr. Vitorino Guimarães ia arrastado pela fatalidade das cousas e, como todas as pessoas obstinadas, embora boas, pretendia resistir à fatalidade da corrente. Em todo o caso, caminhando nela, porque a sua resistência era impotente, qual era a ilusão do Sr. Vitorino Guimarães? Fechava os olhos e dizia que andava para trás, quando caminhava para a frente.
Já disse que o Partido Democrático, o maior pregador que tenho encontrado contra o aumento da circulação fiduciária, embora lhe seja aplicável o velho conceito a respeito de Frei Tomás — faze o que êle diz, não faças o que êle faz — tinha encontrado a circulação em 730:000 contos, e citei, também, o número correspondente a Agosto, que tinha visto nos jornais.
Como hoje, porém, tive ocasião de ir ao Ministério das Finanças, posso já dizer o número de 20 de Outubro, ou sejam 1:334:386 contos.
Temos, pois, que a circulação foi pelo Partido Democrático aumentada de 604:386 contos, isto é, do quási 90 por cento.
Mas o Partido Democrático — deixem lá estar o Sr. António Maria da Silva — há-de chegar ao dôbro, há-de arredondar a conta para os 1. 460:000 contos.