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Sessão de 25 de Outubro de 1923
Pretende, transformando tudo, convencer o País por qualquer forma de duas cousas essenciais: Primeiro de que conseguiu realizar o milagre de estabilidade do Govêrno. Segundo, que resolveu o problema da ordem.
É o homem que maior estabilidade tem tido no Poder; e, usando desta maromba, resolveu o problema da ordem.
Alguém disse aqui um dia, e creio que o Sr. António da Fonseca mesmo o repetiu, que o Sr. Presidente do Ministério era como a abelha mestra que mata os zangãos depois de fecundada.
Resolveu o problema da estabilidade do Govêrno, mas não resolveu a estabilidade quanto à continuidade da acção financeira.
Matou o Sr. Portugal Durão; matou o Sr. Vitorino Guimarães; e acaba de matar o Sr. Velhinho Correia.
E prepara-se para assassinar o Sr. Ministro do Comércio, a quem a cruz do comércio já era bastante pesada, atirando-o para a pasta das Finanças.
E depois de ter esta continuidade de homens, depois de os ter morto por variadíssimos processos, que vão desde o escândalo, no caso do Sr. Velhinho Correia, até à impaciência, no caso dos Srs. Vitorino Guimarães e Portugal Durão, quere atirar as culpas do insucesso da sua obra para cima do Parlamento, usando dos seus dois conhecidos processos: o do chicote de nove rabos, e o da mais doce...(o termo não será muito parlamentar, mas não me acode outro aos lábios) a mais doce lábia que tenho conhecido.
Não temos, por tanto, tido no Sr. António Maria da Silva o homem que governa há mais tempo; temos tido o homem que mata mais Ministros!
Tem tido a seu lado pessoas competentes e que orientadas por outro, que não fôsse S. Ex.ª, teriam feito obra boa; mas para satisfazer a sua vaidade S. Ex.ª tem-as derrubado a todas, com os seus equilíbrios malabares que não são para servir o País, porque, se fôsse assim, já a maromba há muito lhe teria caído das mãos esmagando e com o seu próprio peso.
Mas vamos analisar os apregoados serviços de S. Ex.ª
Como é que S. Ex.ª tem resolvido o problema da ordem? Com uma facilidade espantosa.
Almoça com uma revolução, quando não se dá o trabalho de ter o mata-bicho de uma revolução, e janta quando lhe apetece com ela já desfeita.
E curioso preguntar: porque é que tantas revoluções se têm dado durante a sua gerência e tantas S. Ex.ª tem desfeito com aquela habilidade pessoal que o torna, segundo as suas próprias palavras, insubstituível?
Naturalmente, é porque a obra administrativa de S. Ex.ª não tem sido boa, e por isso essas revoluções têm razão de ser, ou então são inventadas.
Apoiados.
A não ser que haja uma terceira hipótese que pode ser a seguinte: não desarmar completamente as revoluções para se tornar exactamente o homem insubstituível.
S. Ex.ª não faz como nós outros, homens políticos, que dispersamos a nossa atenção por diferentes assuntos públicos. Não, S. Ex.ª deixou-se absorver por uma obcecação constante que é a de ser Govêrno, e por isso desfaz revoluções, mas deixa também que elas não se extingam completamente, para que ninguém o possa arrancar das cadeiras do Poder, a fim de se tornar mais duradoiro que Lloyd George!...
O Sr. Presidente do Ministério queria por esta forma deminuir o Poder, mas nós Parlamento temos o direito e o dever de não nos deixar deminuir.
Não dizer a verdade ou substituindo-a por uma aparência de verdade ou por uma cousa que é, claramente, a negação da verdade, — é uma cousa que fica mal aos homens, quanto mais aos Govêrnos.
Assistir impassível ao triste espectáculo de ver um Ministro afirmar uma cousa para no dia seguinte a negar ou dizer outra completamente diferente, é, uma cousa que fica tam mal ao Ministro que se desdiz como ao chefe do Govêrno com a sua cómoda impassibilidade.
Chega até a parecer impossível que o Sr. Presidente do Ministério que, pessoalmente, é uma pessoa de bem, não tivesse escrúpulos em assistir impassível a uma tal contradição de afirmações.
Acusam-nos, acusam-nos a nós parlamentares, de sermos os culpados dos constantes aumentos da circulação fiduciária.