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Diário da Câmara dos Deputados
como nós está absolutamente fora de todas as responsabilidades na desgraçada situação a que o País foi levado pela República. Mas, se bem que nenhuma responsabilidade tenhamos, se bem que ás responsabilidades pertençam, principalmente, ao Partido Democrático e á maioria, como entendemos que acima de tudo devemos ser e somos portugueses, a nossa atitude e bem diversa da que tem sido adoptada pela maioria.
Custa a crer que, revelada a situação em que o Partido Democrático deixou o País, êsse partido se permita o arrojo de se levantar para censurar alguém ou para mostrar ao País que tem autoridade pelos seus actos para criticar a situação!
Não quero tomar muito tempo à Câmara, tanto mais que já o ilustre leader da minoria monárquica definiu claramente que, sem nos esquecermos de que somos adversários intransigentes do actual Govêrno, não queremos por nenhuma forma criar-lhe dificuldades que o impeçam de realizar uma obra útil. Não quere isto dizer que estejamos convencidos da possibilidade de que tal aconteça, mas simplesmente quere dizer que nós, portugueses acima de tudo, estamos ao lado de iodos aqueles que queiram salvar o País e inteiramente fora de tudo quanto seja espírito partidário ou espírito de política no sentido mesquinho desta palavra. E, no emtanto, a hora de cada um definir as suas responsabilidades perante o País.
Nestas circunstâncias, eu não posso deixar de ler algumas passagens do discurso que tive a honra de proferir quando da discussão do Orçamento, discurso que pela maioria democrática — e lembro-me até de quanto o ilustre Deputado e meu amigo pessoal, Sr. Manuel Fragoso, se contra aquilo a que chamava o meu espírito pessimista, contra o calor que eu punha nas minhas afirmações, contra os números que eu apresentava à Câmara. Vejam, porém, como o anexo do Sr. Ministro das Finanças vem confirmar tudo quanto eu disse...
O Sr. Manuel Fragoso: — No que diz respeito ao deficit, o engano foi só de metade!
O Orador: — V. Ex.ª verá como êle é muito superior a 400. 000$. O próprio Sr. Ministro das Finanças declara no seu relatório que o deficit deve exceder em muito os 400. 000$.
Ia eu dizer; Sr. Presidente, que a minoria monárquica pode intervir desassombradamente neste assunto, porque não tem qualquer espécie de responsabilidade nem sequer aquela que pesa sôbre o Partido Nacionalista pela sua cumplicidade na manutenção de govêrnos, em defesa do princípio da estabilidade ministerial, cujos resultados são o que todos estamos vendo.
Somos os únicos nesta Câmara com autoridade moral para falar. Mas não queremos neste momento ir além daquilo que indicam os interêsses nacionais iam esquecidos e calcados.
A minoria monárquica estará ao lado do Govêrno em todos os passos que dê para a realização da sua obra, no que aliás não acreditamos, tais serão às dificuldades que a maioria desta Câmara lhe há-de criar.
E ainda ontem foi apresentada uma proposta, que embora ainda não apreciada em detalhe, na generalidade, tem o mais absoluto apoio dêste lado da Câmara.
Nós vemos que, porventura, não pode ir até onde devia, a compressão das despesas, que é indispensável para á salvação nacional. E, a prova de que assim sucede, é que o Sr. Presidente do Ministério, no seu discurso em resposta aos oradores que se inscreveram no debate político, declarou:
«Com referência ao Ministério do Trabalho, V. Ex.ªs compreendem que não temos maioria nesta Câmara, e dela se encontra pendente uma proposta de eliminação».
A eliminação do Ministério do Trabalho, bem como outros casos, são a demonstração do que, por maior que seja a boa vontade de alguns homens dêste regime, é impossível resolver dentro dele o problema nacional, porquanto a crise é do regime, representado pela única fôrça partidária a que já me referi.
Sr. Presidente: quere o Govêrno levar a cabo essa obra?
Se quiser, nós aqui estamos para o apoiar em tudo quanto seja bom e possível para salvar o país.