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Diário da Câmara dos Deputados
O Sr. Ministro das Colónias. (Vicente Ferreira): — Sr. Presidente: ouvi as explicações que o Sr. Rodrigues Gaspar entendeu dever dar à Câmara.
Na parte em que essas explicações a mim se dirigem, agradeço.
O Sr. Rodrigues Gaspar, ao tomar a palavra para explicações, entendeu formular uma nova acusação, isto é, a do que ou mo tinha agastado.
Nada disso.
Eu não me agastei. Fiz a minha, defesa o melhor que pude, e creio que a fiz bom, porque estou convencido de que a Câmara me dá inteira razão.
Apoiados.
Eu sei que é doloroso, para políticos apaixonados, confessá-lo; mas esta é que é a verdade.
Com todas as suas palavras, o que o Sr. Rodrigues Gaspar não conseguiu destruir foi o facto de no dia 16, quando eu já ora Ministro das Colónias, ter sido feito um decreto que eu não assinei.
Não há habilidades que possam destruir a veracidade dêste facto.
Quando uma questão é;inni posta nos termos em que o Sr. Rodrigues Gaspar a trouxe, o que há a fazer da parte do interpelado é dizer tudo.
Uma voz: — O que não há é o direito do uma sessão perdida por causa de só discutir a legalidade dum emprêgo.
O Orador: — Não fui ou quem trouxe para aqui esta questão, nem sou eu quem quero entrar no caminho de envolver no caso o nome de outras pessoas.
Justificou S. Ex.ª a sua interpelação, alegando o que lera nos jornais.
Eu não disse uma única cousa aos jornalistas.
As cousas que constam do inquérito que mandei fazer foram do conhecimento apenas dos meus colegas de gabinete, do pessoal do meu gabinete e do funcionário do Ministério que fez o inquérito, e ainda das pessoas ouvidas.
Se. o caso chegou aos jornais, tenho tanta culpa disso como S. Ex.ª tem das ameaças e do tantas outras cousas que lá vêm.
Disse ainda S. Ex.ª que o governador da Guino teve razão no requerimento que foz.
Eu admiro muito, realmente, a clarividência que êsse governador teve o a facilidade com que previu os actos que eu ia praticar, mas é-mo lícito preguntar se isso não resulta dum rebato do consciência pelas injustiças cometidas.
Apoiados.
Que o governador na Guino previa as minhas decisões, disse o Sr. Rodrigues Gaspar.
Mas que motivos tinha S. Ex.ª para prever as minhas resoluções, antes de eu tomar conhecimento dos acontecimentos?
Não, o caso não é êsse.
O caso tem outro aspecto e não vale a pena insistir nele.
Relativamente ao facto de ou referir que o Sr. Alfredo Gaspar tinha o processo na gaveta, eu não queria referir-me ao acto material.
É uma imagem que nós usamos para fazer ver que ternos um processo pendente, sem ter despacho: o que não se deu despacho ao processo em questão é um facto.
Queixou-se, porém, S. Ex.ª de que lhe tinham sonegado o processo. Mas no meu gabinete isso não acontece, porque tenho métodos de organização, tomo as minhas notas, tenho a minha agenda, para não ser iludido.
E deixo-me S. Ex.ª que lhe diga que estranho a sua fraqueza. Esteve lá S. Ex.ª dois anos — para bem do País. quero creio — e saiu com esta impressão: que havia funcionários que ocultavam processos, protegiam indivíduos acusados de crimes, e todavia S. Ex.ª não teve tempo, não teve coragem ou paciência para metê-los na ordem.
Pois eu aqui declaro a S. Ex.ª e à Câmara: demore-me eu no Ministério metade do tempo que S. Ex.ª lá esteve, e prometo que Cies entram na ordem, ou cousa grave acontece.
Não posso admitir que o Ministro abdique de tal modo da sua autoridade que seja possível darem-se impunemente os factos de que S. Ex.ª acusou os funcionários do Ministério das Colónias.
Apoiados.
Eu quero antes crer que o Sr. Rodrigues Gaspar não quiz tomar uma decisão, porque ela lhe repugnava ou levava-o a uma violência que se não compadeço com o seu temperamento.