O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

16
Diário da Câmara dos Deputados
Não vale a pena andarmo-nos a acusar de evoluções políticas. O que fica apurado de tudo isto é que os homens mudam como na canção em que se diz que são volúveis as mulheres.
Acho bem que assim seja, que se acomodem a novas orientações políticas.
Veja V. Ex.ª: já houve um tempo em que estava de relações cortadas com vários membros da maioria e hoje não estou de relações cortadas com nenhum, e até me arrependo de só ter dado tal facto.
A seguir ressuscitou nesta casa, o Sr. Rodrigues Gaspar, o famoso caso da demissão do Sr. Velez Caroço.
Êsse é um dos casos mais típicos duma certa psicologia, se não de todos, de muitos membros do Partido Democrático, isto é, a obrigação dos adversários receberem todas as desconsiderações o a obrigação correlativa de pedirem desculpa.
No dia 16 de Novembro, horas depois de tomar posso e não tendo praticado, como acto ministerial, outra cousa senão o compromisso de honra no Palácio de Belém, e umas vagas o apagadas considerações no acto de posse, entre as quais figuravam, muito sinceramente ditas, palavras de estima e apreço pelo meu antecessor, dizia eu, horas depois do tomar posse recebia o seguinte requerimento, cuja data não posso precisar se é de 15 ou 16 porque está emendada; mas seja 15 ou 16, a data em que êsse requerimento entrou na respectiva repartição foi a 16.
Peço à Câmara que aprecie bem os termos em que está redigido êsse requerimento feito por um governador colonial que está na Metrópole:
Leu.
Sr. Presidente, declaro que li, reli e pasmei.
Pensei então: êste Sr. Velez Caroço será um oficial que fez o curso pouco mais ou menos ao mesmo tempo do que eu, com quem nunca tive muita intimidado, mas que conhecia de vista tendo assim umas reminiscências de escola? Parece que sim, que era o mesmo.
Pensei depois: mas que haveria eu feito para justificar tal requerimento? Não percebia.
Podia dar ao caso duas interpretações, ambas cias conducentes à mesma resolução tomada por S. Ex.ª: ou S. Ex.ªs se sentia doente e fatigado e me vinha confessar publicamente que perdera a confiança na sua acção, quere dizer, que êle próprio desconfiava de si mesmo, ou então que eu não lho merecia confiança.
Em qualquer dos casos ou só tinha um caminho a seguir, deferir êsse requerimento o assim fiz.
Apoiados.
Mas parece pitoresco que só pretendia naturalmente que, ao receber o requerimento que o Sr. Velez Caroço me atirava à cara, chamasse S. Ex.ª e lhe dissesse: venha cá. retiro esto papel, aliás então porque está zangado? Que lho fiz eu?
Era isto naturalmente que se queria que eu fizesse, mas, Sr. Presidente, deixe-mo V. Ex.ª que diga que a essas cousas é que eu me não presto.
Apoiados.
Uma voz: — Nem qualquer Ministro se deve prestar a isso!...
O Orador: — O Sr. Velez Caroço, diz que é êste o seu costumo quando há mudança de Govêrno, e que juntamente com o telegrama de cumprimentos envia o seu pedido de demissão para assim obter do novo Ministro uma ratificação ou uma negação do confiança.
No caso presente, porém, como já tive ocasião de dizer, S. Ex.ª dispensou-se da primeira parte e cumpriu só a segunda. A questão é que êste seu requerimento foi já um cumprimento, e dos bons, embora dado de certo modo, que eu não usaria...
Mas, pregunto: — que sabia S. Ex.ª que eu ia fazer? Sabia isto; que eu ia repor as cousas no verdadeiro pé; que eu ia fazer justiça e que não me prestava a sancionar os actos praticados contra vários funcionários e insistentes acusações, que o inquérito prova que...não estão provados.
Na ocasião não adivinhava mas, pelo que o Sr. Rodrigues Gaspar acabou do dizer o pelo que ontem se disso no Senado, cheguei a essa conclusão. Não fico consolado com ela pelo contrário.
Devo chegar agora àquele ponto um bocadinho grave do discurso do Sr. Rodrigues Gaspar, ponto grave que S. Ex.ª decerto vai explicar, porque, se o não fi-