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Diário da Câmara dos Deputados
O Sr. Francisco Cruz: — Sr. Presidente: sinto, como parlamentar e como português, ouvir pronunciar continuamente as palavras «violências» e «provocações», porque, com infinita amargura, venho verificando que, em 13 anos de República, temos atrabiliàriamente confundido tudo e todos.
E com tanta amargura eu constato êste facto, quanto é certo que o meu espírito de republicano e de patriota impede-me de ter qualquer interêsse que não seja o de contribuir para o bem do País e da República.
Toda a gente enche a bôca de sacrifícios pela causa da República.
Por ela todos sofreram, todos se bateram, todos se sacrificaram.
Eu não quero duvidar da sinceridade de todas essas vítimas do seu ideal, e se não duvido, maior autoridade tenho para reivindicar para mim o direito de me englobar no número daqueles que, de verdade, prestaram à República, todos os serviços de que eram capazes.
Republicano de sempre, tanto nas boas como nas más horas, eu não posso, porém, deixar de confessar â minha profunda amargura pela obra nefasta realizada nestes últimos 13 anos.
É realmente doloroso constatar como a boa vontade é o esfôrço de tantas pessoas animadas da esperança de melhores dias se perderam perante o egoísmo e a ambição dos homens.
Os crimes sucedem se porque a sua impunidade constitui um verdadeiro incitamento.
Verifico, com infinita mágoa, que, tendo a Câmara resolvido, num nobre gesto, uma obra de moralidade republicana, ninguém se lembra já de que, porventura, alguns camaradas tona de ir ao tribunal prestar contas.
Não deixam que se apurem responsabilidades.
Falo em nome da Nação e da República o tenho autoridade para falar aqui e lá fora.
Falo alto, com orgulho e muita coragem, porque o que digo se baseia; em factos, se baseia numa vida inteiramente devotada à causa da República e da Pátria.
Sinto-o profundamente na, minha alma de português e republicano.
O meu protesto veemente vem da minha alma de republicano e patriota. Sinto-me apoucado por indivíduos a quem se costuma chamar prestigiosas pessoas. Chamam-me talassa ou cousa semelhante.
Nunca me importei com êsses epítetos, porque sempre cumpri o meu dever de republicano e de patriota.
Tive ontem ainda ocasião, de ver num jornal umas insinuações que me magoam profundamente.
Apelo para a imprensa do meu País, que julgo ser o porta-voz da opinião pública.
Acusaram-me de ter ontem votado aqui a favor duma certa emprêsa muitos contos, como se a Câmara dos Deputados fôsse capaz,de votar alguma cousa com interêsse próprio.
De resto, tenho a coragem de afirmar bem alto que essa imprensa tinha por dever ser justa e reflectida.
Deve saber que para uma obra progredir, e para que quem ocupar as cadeiras do Poder possa lançar impostos, é preciso que haja matéria colectável, e que em toda a parte: do mundo se dão prémios de protecção.
Todos os povos pretendem hoje bastar-se a si próprios.
Os que estão em civilização atrasada pensam o contrário das garantias a determinadas emprêsas; isto em toda a parte.
E é assim que os Govêrnos, para que a riqueza do País se desenvolva, dão subsídios o garantia de juros, a determinadas empregas.
Assim sucedo em toda a parte.
Em Portugal, na hora que passa, que é mais grave pela circunstância de haver pouca produção, o problema deve merecer todo o carinho dos homens públicos, estimulando os factores de riqueza com prémios de produção.
Só com aumento de produção o País se poderá saber e, portanto, nunca será demais proclamar a necessidade de os Poderes Públicos ligarem ao assunto toda aquela atenção que sempre lhes deverão merecer os problemas que interessam ao ressurgimento nacional.
Muitos mesmo, os que porventura queiram ficar de bem com a sua consciência, tenho a certeza de que me hão-de dar razão inteira e completa.