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Sessão de 9 de Janeiro de 1924 17

Sr. Presidente: eu estou daqui a ver um Ministro, por quem tenho uma grande consideração pessoal, de quem sou amigo, e por ser amigo estou a ver no seu rosto tanta amargura, tanto arrependimento e não sabendo ainda se S. Exa. se conservará muito tempo por aquele lugar, ao passo que vai acompanhando a obra do Govêrno, vendo a que ponto podem chegar a leviandade, a incompetência, a inconsciência e a ambição daqueles que ocupam o Poder Executivo.

Sr. Presidente; êste lado da Câmara não pode dar apoio de nenhuma espécie ao Govêrno e não o pode dar porque elo não lhe merece confiança alguma. O Govêrno não nos pode inspirar nenhuma confiança, não porque, como homens de honra que o são, estejam propositadamente a fazer uma obra má, mas pelos péssimos exemplos que dão à República, porque representam a conseqüência inevitável duma cabala, como disse, e a uma acção dessas, de insegurança para todos, de mal para nós, de perigo, e de ameaça para o País; e como castigo só merece a, nossa repulsa e o abandono imediato daquelas cadeiras. Julgam V. Exas. que eu falo assim porque vejo ali como Ministro do Trabalho o Sr.- Lima Duque? Não, Sr. Presidente, eu vejo o Sr. Ministro do Trabalho apenas como político vindo da aldeia, onde tudo lhe serve de pretexto para arranjar um correligionário, onde nada lhe escapa. Procura os correligionários, e quando os tem sob a mão, quando lhes pode chamar seus, quando sabe que tem, os seus votos então comete mil e uma tropelias.

Procede-se desta maneira para mal proceder e mal servir os seus interêsses mesquinhos de político.

Mas com isso nada tenho, e neste momento suponho que o Sr. Presidente do Ministério, lhe dará o banho daquela limpesa indispensável.

Trocam se vários apartes.

O Orador: — Os tempos não mudaram. Os homens é que mudam, e V. Exa. tem ali o exemplo da inconstância dos homens.

Um àparte.

O Orador: — Político do aldeia nos seus processos mesquinhos e, se não fôsse êsse seu procedimento, em forma de agir, creia V. Exa. que o Sr. Lima Duque não ocupava aquele lugar.

Mas há-de reconhecer S. Exa. a breve trecho que a obra que se propõe realizar é uma obra imperfeita e que, desconhecendo absolutamente o que fez, sem hesitações, apenas também porque quis meter a mão no saco o tirar bola, foi desorganizar serviços, sem nenhum espírito de seqüência, sem finalidade na sua obra, sem outro intuito que não fôsse mostrar ao Século e ao Diário de Noticias que também cortava, quando neste momento ao Parlamento só convinha cortar dali S. Exa.

O Sr. João Camoesas (àparte): — Gostava de saber o que V. Exa. diria do Sr. Lopes Cardoso, por exemplo, se S. Exa. entrasse no Govêrno.

O Orador: — Sr. Presidente: o Sr. João Camoesas, sempre brilhante nos seus apartes, por vezes entende dever chamar a minha atenção para alguns homens públicos do meu País.

Aqueles que S. Exa. refere não estão em causa, mas S. Exa. sabe muito bem que quando o merecem, não os poupo, sejam êles quais forem.

O que, porém, sou sempre é leal, porque nunca deixo de prestar culto à verdade.

Já não é a primeira vez que o Sr. Álvaro de Castro ocupa aquele lugar. Ocupou-o durante quarenta e oito horas, durante as quais tive a honra de falar quatro ou cinco vezes, combatendo-o com intransigência. Tombou, caíu.

Foi leader do meu partido, e desafio S. Exa. a que diga se, da minha parte, encontrou alguma vez qualquer propósito de o ferir, de o magoar; se, emquanto os acontecimentos se desenrolaram, soube sequer da minha existência ou se dela sequer suspeitou para embaraçar a sua acção.

É que assim é que se adquire a autoridade indispensável para não ser agradável para com os homens, quando um justo dever nos obriga a ser simplesmente desagradáveis.

Tal o caso de hoje, e como assim é, vou terminar as minhas considerações.

Exceptuando dois homens que, pela posição que ocupam, por honra sua, devem