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Sessão de 9 de Janeiro de 1924 19

A sua posição é a de expectativa benévola; não a de expectativa benévola cora que os políticos costumam mascarar as suas intenções, mas aquela expectativa benévola que não contraria uma franca e leal colaboração.

Seja-me permitido notar que autoridades políticas de relevo têm vindo agitando, a propósito da crise nacional que atravessamos, quer em conferências, quer em comícios, quer na imprensa, princípios de manifesta subversão constitucional.

A organização político-social que represento nesta Câmara não se dispensa de fazer, a tal respeito, algumas afirmações.

O País não quere mais revoluções nem mais ditaduras.

Muitos apoiados.

O que o País quere é trabalhar.

Muitos apoiados.

Há casos em que as revoluções são necessárias e têm, por isso, justificação.

A de 1640, por exemplo. Mas nesses casos excepcionais as correntes revolucionárias não têm tido qualquer espécie de solidariedade com os factos que determinaram essas revoluções.

Neste momento da vida nacional quais são os factos que determinam os movimentos revolucionários?

Factos relativos à administração pública.

Mas veja-se o que são os Transportes Marítimos, Os Bairros Sociais, as organizações de certos bancos e de certas emprêsas.

Veja-se toda essa formidável organização, verdadeiramente parasitária, que gira em volta do Estado, e verifique-se como dela fazem parte conservadores e radicais, republicanos e monárquicos.

Todos os que sobem pela violência de uma revolução põem-se em antagonia com os que caem.

Os que estão em cima gritam «abaixo os ruins», e os que estão debaixo dizem «quanto pior, melhor».

Apoiados.

O que hoje se faz é a luta, não pela Pátria, mas por paixões diversas que os orientam.

Não é só de revoluções que o País está farto; está farto de ditaduras e não as quere mais.

As leis aceitam-se tanto melhor quanto mais impessoais elas são. As ditaduras defendem-se pelo seu êxito e o momento não é para experiências.

As ditaduras em Portugal têm sido desastrosas; desastrosa foi a ditadura do Mousiuho da Silveira, desastrosa a ditadura de João Franco e desastrosa a ditadura de Sidónio Pais.

O Sr. Cunha Leal: - E a ditadura do Sr. Afonso Costa?
O Orador: — Todas as ditaduras têm sido desastrosas.

O País está farto de ditaduras.

É necessário que o exército esteja no seu lugar porque a sua função é condição de uma função política, mas não é uma função política.

O exército tem uma missão: a de manter a ordem, não podendo nunca considerar a fôrça de um Govêrno na fôrça do exército.

Eu bem sei que muitas pessoas voltam os olhos para a Espanha e para a Itália, mas os regimes dêsses paízes são tremendas interrogações.

Não estejamos à espera do Messias como faziam os judeus, que se encorporaram na nossa constituição étnica. Não estejamos, como faziam os nossos antepassados, a olhar o horizonte a ver se descobriam o Encoberto, depois de Alcáber-Kibir.

O Messias, o Encoberto, o salvador, está dentro de cada um de nós...

O Sr. Cunha Leal (em aparte): — Há-de vir de Paris ...

O Orador: — Há-de vir de Paris e há-de existir em Portugal, desde que cada um se compenetre dos seus deveres.

Que resulta destas minhas considerações!

Resulta que o Parlamento deve ser modificado, porque de facto êle tem defeitos.

Mas pregunto: - qual é a instituição que não tem defeitos?

Sr. Presidente: é pelo Parlamento que o País tem feito o desafogo de todas as suas dificuldades colectivas; é êle como que o abcesso de fixação por onde se escoam todas as indignações que as paixões