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10 Diário da Câmara dos Deputados

considerou o Sr. Álvaro de Castro como o mal menor.

Temos inúmeras provas disso, isto é, sôbre o que tem sido de facto a campanha da imprensa, na parte que me diz respeito.

Não tenho fáceis vaidades, não tenho o arrojo de me considerar nem uma pessoa indispensável à política portuguesa, nem uma pessoa que ocupa um lugar preeminente na mesma política.

Essa imprensa, porém, é que tem pretendido dar-me tal situação, porque cada vez que pratico o mínimo acto, essa imprensa grita que o Cunha Leal é estúpido, é imbecil o está prejudicando o país.

E, em lugar de se contentar com estas afirmações só por uma vez, repete-as durante dias consecutivos.

Ouso mesmo supor que certa imprensa, em que figura um jornal da manhã, O Século e um jornal da tarde, A Capital, tem ido até à própria sugestão do assassinato.

O Sr. Lúcio Martins: — São artigos pagos!...

O Orador: — E a comprová-lo está o que essa imprensa escreveu a propósito, por exemplo, de uma tentativa de viagem minha ao Pôrto, sugestionando claramente o assassinato.

O Sr. Presidente do Ministério não encontrou êstes embaraços no seu caminho, e eu quero demonstrar por um pequeno exemplo o que êsses embaraços podem ter de significativo.

Ninguém ignora que desde o momento em que eu tomei posse da pasta das Finanças, convidado gentilmente pelo Sr. Ginestal Machado, até o momento que a abandonei, as circunstâncias da nossa vida económica tornaram o câmbio mais desfavorável e fizeram com que êle se firmasse.

Foram circunstâncias independentes da minha vontade, foi a natural evolução económica do país.

Recordo-me de que durante algum tempo houve uma greve marítima, cujos efeitos, sob o ponto de vista do fornecimento à praça e da entrada no país do ouro estrangeiro, não se fizeram sentir imediatamente, mas sim três meses depois, pouco mais ou menos.

Exactamente, quando o Sr. Ginestal Machado tomou conta do Govêrno, começava a pesar na praça a influência da não entrada de cambiais, proveniente da greve-marítima e da paralisação forçada da nossa exportação.

Daí um agravamento de câmbios, além, de outras circunstâncias que para isso também concorreram.

Pois em lugar do a imprensa fazer justiça às intenções dêsse Ministro, em lugar de estudar as causas que tinham determinado êsse movimento dos câmbios, essa imprensa caprichou em demonstrar que era simplesmente a presença do Ministro das Finanças que originara a depressão dos nossos câmbios.

Caído o Ministério presidido pelo Sr. Ginestal Machado, subiu ao Poder o Sr. Álvaro de,Castro.

Depois de várias tentativas para arranjar um Ministro das Finanças exilado, co-locou-so êle mesmo nessa pasta.

S. Exa. é o grande homem apregoado por toda a imprensa, levantado no escudo da moagem e, contudo, os câmbios continuam a agravar-se.

Vê porventura a Câmara se se fez a mais pequena alusão nos jornais, sôbre isso?

Absolutamente ao lado do Govêrno, a imprensa faz neste, momento justiça, como eu a faço, ao Sr. Álvaro de Castro.

Não tem sido a sua pessoa que tem determinado a queda dos câmbios e a firmeza cambial, mas não há dúvida de que as razões que ontem, se invocavam para derrubar o Ministro Cunha Leal já hoje se não empregam contra o Ministro Álvaro de Castro, elevado, no escudo da moagem, embora S. Exa. seja incapaz de — faço-lhe essa justiça— estar as ordens da referida moagem.

A linguagem que emprega o Sr. Presidente do Ministério não pode ser a linguagem que nós empregamos.

A nossa linguagem é a daqueles que se sentem asfixiados, enxovalhados e que guerem repelir êsses enxovalhos e acusações injustificadas.

Podem ser excessivos, sim, mas são-no em nome da própria dignidade, porque não há homens que tenham por costume andar de cabeça levantada e com a espinha dorsal, erecta que sejam capazes de assistir indiferentes a esta onda de infâ-