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Sessão de 17 de Janeiro de 1924 11

O Sr. Cunha Leal: — Sr. Presidente: esta questão é realmente das que mais interessam ao País, e declaro que as minhas considerações não são determinadas por quaisquer retaliações políticas, embora isso fôsse natural.

Não ignora a Câmara que, quando estive no Govêrno, circunstâncias gerais ou particulares que importaria estudar determinaram uma depressão cambial, que não se compara à de ontem para hoje, e certos jornais diziam que eu era o causador dessa depressão, e até o actual governador civil do Pôrto, que foi meu correligionário e que passou para outro lado, afirmou que o Govêrno transacto tinha sido um golpe de câmbio.

Hoje S. .Ex.a não considera já assim â depressão que se dá e não pede a sua demissão.

Àpartes.

Podia usar de processos semelhantes aos que se usaram contra mim, atribuir ao Govêrno todas as culpas da situação, e podia até com todos os tropos da minha retórica atacar o Govêrno com toda a violência, usando das mesmas armas que se empregaram contra mim como Ministro das Finanças, mas repugna à minha consciência de homem de bem empregar armas que reputo menos dignas.

Não vou dizer ao Govêrno que êle é culpado de uma situação tam grave, e do pânico que começa a estabelecer-se na sociedade portuguesa.

Quando muito acusaria o Govêrno da simples circunstância de desconhecer o problema, e de apresentar soluções infantis, tendo de reconhecer que não pode um Govêrno, de um momento para o outro, modificar a situação.

Não farei retaliações políticas e só entendo que a situação tem do ser analisada, não pelo que valem as palavras, mas pelo que valem os factos, e para mim esta situação em que estamos hoje deriva de certas medidas tomadas.

A primeira cousa que a Câmara e o Govêrno devem ter é uma directriz, para nina orientação salvadora, e não para lugares comuns que serão trabalhos perdidos e novas causas de desordem.

Por êsse modo todos quererão encaminhar a Pátria e a República para um despenhadeiro por cujas arestas vamos já rolando, e não julguem que estamos à

beira do abismo quando vamos já rolando por êle.

O Sr. Nuno Simões fez certas declarações e eu quero também fazer as minhas declarações, pois nos encontramos numa situação anormal.

S. Exa. declarou que seria capaz de votar medidas as mais violentas, se o Govêrno alguma cousa de prático e de útil estivesse decidido a fazer.

Também eu, hipotecando neste caso apenas o meu voto, faço a mesma declaração.

Tudo quanto o Govêrno pela sua honra nos declare absolutamente útil para nesta hora travar um pânico que se manifesta assustador, tudo darei ao Govêrno.

Mas preciso de fazer uma restrição clara e categórica.

Preciso de pôr diante da consciência do Govêrno esta dúvida sôbre a sua própria acção.

O que é que o Govêrno quere fazer?

Quais são os seus propósitos?

Porque, emfim, eu tenho necessidade, ao votar aquilo que me fôr exigido em nome da salvação pública, de ter os elementos que me habilitem n julgar se o procedimento do Govêrno vai ser benéfico ou prejudicial.

Até agora o Govêrno somente nos tem trazido lugares comuns.

Argumenta-se com o facto de o Sr. Poincaré para pôr um dique à depreciação do franco ter pedido à Câmara o aumento dos impostos.

Declaro que não acredito que seja possível travar a marcha dos câmbios pelo aumento dos impostos.

Quais são as causas da queda dós nossos câmbios?

Já por várias vezes tenho exposto nesta casa do Parlamento, perante a indiferença mais ou menos notória de muitos dos seus membros, as minhas ideas sôbre o assunto, e as minhas ideas que são filhas de consciencioso estudo é aturada observação e não das circunstâncias, mantenho-as inteiramente.

Os câmbios, dizem alguns, agravam-se todas as vezes que um país vive em regime orçamental deficitário, todas as vezes que êle aumenta a sua circulação fiduciária, todas as vezes que a confiança nos seus Governos desaparece.

O Sr. Presidente do Ministério inter-