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12 Diário da Câmara dos Deputados

preta neste momento essa corrente que não é exclusivamente nacional e que eu, em oposição ao Sr. Decamps, tive ocasião de contraditar.

O Sr. Presidente do Ministério sustentou que, travado o aumento da circulação fiduciária, equilibrado o Orçamento e alcançada a confiança da Nação, os câmbios hão-de necessàriamente melhorar.

Não é isto, repito, inteiramente exacto.

Circunstância estranha a essas e de muito maior valia do que elas é a da situação da balança económica de um país.

As condições dificílimas da nossa balança económica que implicariam só por si uma quebra da nossa moeda, vieram juntar-se ainda outras relativas à exportação dos nossos vinhos e conservas e que acentuaram ainda mais essa quebra.

Paralelamente, a greve dos transportes marítimos acarretou ainda maiores perturbações.

As dificuldades depois foram surgindo à medida que os stoks se esgotavam.

É que as necessidades muito tempo comprimidas, é que as necessidades muito tempo apertadas pelas duras circunstâncias dos tempos que vão correndo precisam de se fazer sentir.

Todos temos do comer bacalhau e importar certos artigos necessários à nossa vida.

E assim repentinamente caiu na praça a necessidade de se importarem determinados artigos.

Foram circunstâncias de ordem económica, tais como aceleramentos fatais de importação, retardamento de exportação, que num dado momento começaram a determinar uma tal necessidade de procura de divisas estrangeiras, em relação à oferta das mesmas divisas, que o seu preço começou a crescer assustadoramente.

Ora todos compreendem que nas circunstâncias excepcionais em que o pais só encontra, quando um fenómeno dêstes se der, o pânico tendera produzir-se independentemente do qualquer idea de afogar, o regime pela especulação.

Efectivamente, o que é certo é que aquele facto de um indivíduo possuir °10 contos, com os quais pode comprar 100 libras, e no dia seguinte verificar que só pode comprar 95 e depois 80, 75, etc., é o suficiente para o fazer tremer não só pelo seu bem estar, mas pelo bem-estar dos

seus filhos, independentemente de pensar na política, e dá-lhe uma certa tendência para acelerar a marcha dos fenómenos, produzindo a emigração de capitais.

A emigração decapitais vem como uma conseqüência à qual devemos atender e perante a qual não devemos protestar com fáceis indignações, mas opor o travão que a inteligência dos homens do Govêrno e o esfôrço de nós todos puderam opor ao fenómeno fatal.

Ninguém retarda a retirada desordenada de um exército, senão opondo-lhe fôrças enquadradas que impeçam as fugas e os actos do indisciplina.

Ora essas fôrças, para o caso cambial, podem ser constituídas pela melhor escolha das cousas necessárias à nossa vida, para sòmente importarmos essas, e pela confiança que o país deposite não só no Govêrno, mas em todos nós.

Ora ocorre preguntar que razão, que motivo pode ter a Nação Portuguesa para neste momento ter essa confiança no Govêrno. Não faço esta pregunta por política, mas só pela dura necessidade de a fazer.

Corresponde a presença deste Gpvêrno nas cadeiasdo Poder a uma necessidade nacional, a uma nova forma do equilíbrio político? Não. A Nação, olhando sinceramente para o Govêrno, digo-o sem segundo sentido de o ferir, vê nele uma forma de transição e ataque a uma fôrça política da República, desorganizando cada vez mais a vida da República, que está neste momento à procura de novas formas de equílibrio (apoiados das direitas). Ninguém ignora que a presença dêste Govêrno no Poder significa um novo arranjo das fôrças políticas. Ninguém acredita na estabilidade do Govêrno, nem na grande fôrça moral que lhe proviria do equílibrio político adquirido; ninguém acredita que êste Govêrno se apoie numa sólida fôrça.

Se assim é, o que é que ainda poderia atrair a confiança da Nação, opondo-se como um dique ao pânico da praça? Porventura as ideas dum homem do génio, dum Napoleão das Finanças, que ocupasse as cadeiras do Poder. Mas todos sabem que, em Portugal, quem tem de algumas dúzias de republicanos metidos nas chafaricas a consideração suficiente para se poder intitular um Napoleão das Finanças é apenas o Sr. Afonso Costa.