O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Sessão de 17 de Janeiro de 1924 15

brincar com a Nação; é aumentar-lhe a desconfiança.

E tem ela razão para estar desconfiada?

Tem. Lembremo-nos, por exemplo, do célebre caso dos 50 milhões de dólares, de que foi vítima até aquele que já por alguém foi classificado de Napoleão da finança portuguesa.

Como é que o Sr. Pedro de Araújo e outros conseguiram amealhar mais alguns milhares de escudos?

Vou dizer.

Conseguiram isso pela simples notícia falsa de um empréstimo, pela confiança ingénua e infantil do Sr. Afonso Costa e ainda à custa da campanha da confiança.

É preciso, dizia O Século, ter confiança na Nação!

Todos acorreram a vender as suas libras que foram cair nas mãos dos especuladores.

Há, pois, momentos em que o gritar a palavra confiança representa servir a causa dos especuladores.

Para mim o principal crime da questão dos 50 milhões de dólares foi o esgotamento parcial dos recursos ouro da nação.

Temos depois o crédito dos 3 milhões de libras. Também todos gritavam: Haja confiança!

Eu sei que as circunstâncias têm variado desde êsse momento, mas o que não há. dúvida é que precisamos de trabalhar e desenvolver a actividade económica do país.

Precisamos de disciplinar as operações cambiais e entravar a marcha desordenada dos câmbios, mas pelos processos actuais isso é impossível.

Creio que, em 1921, tive a honra de apresentar à Câmara uma proposta de lei, remodelando as leis bancárias, e procurando criar um Banco central, medida que nessa ocasião julgava e ainda hoje julgo, da maior utilidade para o país, pois. visava a interessar aqueles que exercem a indústria bancária juntamente com o Estado, num fim comum. É claro que essa medida tem de ser modificada pelas circunstâncias, mas o objectivo ainda é o mesmo.

Sr. Presidente: eu não estou aqui a bater-me por esta ou por aquela idea, mas únicamente pelos interêsses do país, e nestas circunstâncias a quem fôsse con-

traventor deveria fechar-se-lhe a porta, com lei ou sem lei.

Traduza o Sr. Presidente do Ministério as suas ideas, que votar-lhe hei, por exemplo, o imposto do sêlo e a contribuição de registo, que me abstenho de discutir, para que S. Exa. tenha mais depressa na sua mão essas medidas que são indispensáveis, julgo. Eu, parlamentar, dou a S. Exa. um voto de confiança.

Quere S. Exa. trazer à Câmara uma proposta para arrancar a camisa a qualquer figurão que especule com a desgraça nacional? Traga essa proposta de desinfecção da camisa e arrancamento dá mesma, que eu lha votarei. Todas as autorizações e mais uma,

Mas nós não estamos aqui a divertirmo-nos com o país, e por conseqüência temos de procurar obter, o mais ràpidamente possível, o objectivo, e êsse é o da estabilização cambial.

Como há pouco disse, se S. Exa. quiser um voto de confiança, eu dou-lho, mas S. Exa. assume uma tremenda responsabilidade e eu não desejo que S. Exa. saia inutilizado dêsse lugar, porque isso seria retardar a marcha da República.

Sr. Presidente: falar-se em especulação, dizer-se que não se deve aumentar a circulação fiduciária é absolutamente nada - sê o Sr. Presidente do Ministério não empregar todos os impostos com uma política monetária que não sabemos que é.

Eu já estive duas vezes no Ministério das Finanças, uma durante vinte e oito dias, e até alguém lhe chamou os vinte e oito dias de Clarinha, outra durante quarenta e oito dias. Na verdade, não é tempo suficiente para se estudarem as múltiplas e complexas questões que se nos deparam, e, quando se começa a ter uma vaga noção de todas elas, sai-se pela porta fora.

Sr. Presidente: é preciso que não sigamos o exemplo da França, que ultimamente tem vivido dos seus próprios recursos e do seu patriotismo.

Poincaré não tem autoridade sôbre esta matéria.

Com essa política temos de conjugar todos os nossos recursos, temos de empregar o produto da venda da prata, temos de conjugar tudo aquilo que derivou de cambiais de exportação, emfim, todos os recursos de que a Nação puder