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Sessão de 17 de Janeiro de 1924 21

O Sr. Carvalho da Silva: — Sr. Presidente: julgava eu que pelo menos um assunto desta ordem, o mais grave de que o Parlamento até hoje se tem ocupado, fôsse de molde a chamar a atenção dos Srs. Deputados para êle; infelizmente vejo que quando o Parlamento precisava mostrar ao País que olhe para a sua situação, êle mostra antes, em grande parte, que deseja conversar sôbre outros -assuntos.

Apoiados.

Sr. Presidente: apesar de provocado pelo Sr. Presidente do Ministério nas suas infelizes considerações, ou antes no infeliz amontoado de palavras que S. Exa. entendeu dever proferir acerca de um assunto desta ordem, não me esqueço, nem esto lado da Câmara, de que o estado a que chegou a divisa cambial é uma cousa que tem de ser olhada por todos, monárquicos o republicanos, com todo o cuidado, porque qualquer acto mais precipitado ou menos ponderado da parte de cada um de nós, podendo contribuir para agravamento desta situação, não só prejudica e desgraça o País, prejudica e desgraça cada um dos portugueses.

Não serão, portanto, as minhas palavras do mesmo tem das do Sr. Presidente do Ministério, o que não quere dizer que ao abordar um assunto desta ordem algumas palavras de natureza política não tenha que proferir, porque considero — ou nós não fôssemos políticos! — que a questão política é a questão fundamental do meu País.

Apoiados.

Ouvi o Sr. Presidente do Ministério falar, como há 13 anos ouvimos falar certos republicanos, mas já o País não acredita em que têm culpa de tudo os jasuítas e os reaccionários.

Isso que seria, sem quebra de respeito para ninguém, muito próprio de ouvir porventura a um bem intencionado membro de junta de paróquia, não era de esperar que se ouvisse a um Presidente do Ministério.

Referiu-se S. Exa. às incursões da Galiza. Não mo referiria a elas se não fôsse isso.

Melhor, porém, seria que o Sr. Presidente do Ministério, e todos os homens que têm responsabilidades na administração da República verificassem que esta situação é mais uma conseqüência da in-

cursão dos trinta suplementos do Diário do Govêrno do que das incursões da Galiza.

Eu tenho a honra, e cada vez maior, de pertencer à causa defendida por êsses portugueses que fizeram a incursão da Galiza, porque os factos estão a demonstrar duma maneira clara quanta razão tinham, ao preverem que se havia de chegar a êste resultado na administração da República.

Não apoiados da esquerda.

Tenho ouvido sempre com muita atenção as considerações formuladas pelos vários Deputados quando se trata de assuntos cambiais, e ainda hoje ouvi com muita atenção os discursos de iuas pessoas autorizadas, como suo os Sas. Barros Queiroz e Cunha Leal.

São na verdade muito fundamentadas as considerações de S. Exas., mas o que é certo é que êles não foram ver qual a causa primordial da situação em que o País se encontra,

A experiência que se tem adoptado na República de julgar que pode resolver-se a situação financeira do País exclusivamente recorrendo aos impostos, tem sido demasiadamente eloquente para que todos conheçamos as suas conseqüências.

Ainda há dois anos nós ouvimos o Sr. Ministro das Finanças, Portugal Durão, afirmar neste Parlamento que, sendo aprovadas as suas propostas, a questão cambial seria resolvida, e o que sucedeu?

E que, ante o anúncio duma carga de impostos para suprir um déficit com que o País não pode, evidentemente que todos os portugueses, por muito patriotas que sejam, não deixam de atender ao seu sentimento de família e procuram salvar-se da perseguição que é feita ao produto do seu trabalho pelos homens da República, levados por uma paixão que ainda hoje, ao verem a situação precária do País, os leva a recuar perante a necessidade de medidas enérgicas para enfrentarem o problema nacional.

É claro que todas as leis que sejam promulgadas como o anúncio de novas leis tributárias só têm por efeito aumentar a desconfiança nos homens da República e trazer aos portugueses a certeza de que não podem, emquanto o País estiver governado por êstes homens, empregar nó País o produto do seu trabalho.