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22 Diário da Câmara dos Deputados

Mas é tal a cegueira política que, apesar da eloqüência esmagadora dos factos, ainda hoje ouvimos o Sr. Presidente do Ministério, longe de procurar tranquilizar os portugueses e congraçá-los, vir lançar sôbre uma parte deles acusações e responsabilidades que a S. Exa. e aos homens da República exclusivamente pertencem.

Sr. Presidente: ouço dizer, e ainda hoje aqui foi repetido pelos Srs. Barros Queiroz e Cunha Leal, que de facto o factor desconfiança é o que principalmente nos levou a esta situação, e explicam S. Exas. com verdade que o facto de qualquer pessoa ter hoje um determinado montante de escudos e saber que êle amanha tem um valor inferior, faz com que ela, procurando- segurar o valor dêsses escudos, os transforme em ouro.

Esta é a verdade.

E diz S. Exa.:

«É indispensável estabilizar a moeda, é indispensável estabilizar o câmbio».

Sem dúvida quê é indispensável estabilizar o câmbio.

Disse S. Exa. que os aumentos sucessivos da circulação fiduciária não correspondem às necessidades da troca.

Se o alargamento da circulação fiduciária não corresponde ao aumento da riqueza pública, desvalorizam-se os escudos que cada um possui.

Mas porque são os novos alargamentos da circulação fiduciária?

Porque o Estado tem um déficit orçamental; porque o Estado gasta mais do que aquilo que o País pode gastar; porque o Estado gasta mais do que aquilo que pode pagar.

O que é então indispensável, o que é intuitivo, que há tantos anos se vem demonstrando de uma maneira insofismável?

O que é indispensável é reduzir, mas reduzir inexoravelmente, todas às despesas públicas.

É quem foi que criou essas despesas?

Foi a República, foram os homens da República.

Apoiados.

E porque é que os homens da República, sob á ameaça de afundarem o País,

ainda mais do que já se afundou, não reduzem as despesas?

Por motivos políticos.

Apoiados.

Porque põem a República acima do País...

E é chegada a hora de todos esquecerem por completo quais as nossas opiniões políticas e pensar que, acima de tudo e de todos, existe um País que é de todos nós e que todos temos o dever de salvar (Apoiados), que todos temos o dever de colocar acima das paixões.

Porque será então que há tantos anos se lê nos relatórios do Orçamento que é necessário reduzir as despesas públicas, o não há maneira de efectivar essas afirmações?

Será, porventura, por falta de patriotismo dos homens da República?

Não acredito, porque faço justiça aos meus adversários.

Não são só os monárquicos que têm patriotismo.

Sei que muitos republicanos estão desejosos de resolver os problemas nacionais; sei que há muitos republicanos que sinceramente desejam que se reduzam as despesas públicas.

Porque é então que se não reduzem as despesas públicas, sendo indispensável?

Se o País não pode continuar existindo sem se reduzirem as despesas públicas, porque se não tem feito isso?

Evidentemente porque as circunstâncias políticas da República, os fundamentos em que a República assenta, são incompatíveis com a vida da Nação.

Apoiados nas bancadas monárquicas.

A República assenta numa propaganda altamente demolidora; a República assenta numa propaganda feita contra a religião, e por isso tem a desordem.

O Sr. Aires de Ornelas: — Apoiado!

O Orador: — Assenta numa propaganda feita contra a propriedade (Não apoiados), contra o capital, e por isso aí tem a desconfiança pública.

Mas, por isso que a República carece cada vez mais de se apoiar nessas fôrças, é que não pode continuar a preocupar-se com promessas impossíveis de cumprir, e que foram feitas nos saudosos tempos da propaganda.