O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Sessão dt 7 de Fevereiro de 1924 19

O Sr. Presidente do Ministério é um republicano que todos nós respeitamos.

S. Exa. serve a República segundo o seu critério; nós servimo-la segundo o nosso.

Mas por honra de todos nós, não vale a pena medir o nosso amor à Pátria e à República. Temos que partir do princípio de que êsse amor é igual, se quisermos afastar a injúria.

Sr. Presidente: o Sr. Presidente do Ministério com as suas considerações, de há pouco, não fez senão reforçar o que se diz lá fora sôbre a impossibilidade do Parlamento cumprir a sua missão acompanhando a par e passo as várias manifestações da, vida nacional. S. Exa. foi até mais longe do que eu, porque foi até ao ponto de culpar o Parlamento por actos que não são da sua responsabilidade.

Um dia o Sr. Ministro da Guerra trouxe, à Câmara uma proposta para redução do contigente de recrutas, que devia ser aprovada, até ao dia 15 de Janeiro. Essa proposta não chegou sequer a ser discutida, sob o pretexto de que não valia a pena, visto já ter passado a oportunidade dos seus efeitos.

Eu preguntei ao Sr. Presidente do Ministério em que dia tinha sido essa proposta apresentada. S. Exa. não se dignou responder, mas eu, reportando-me ao Diário do Govêrno, verifiquei que essa proposta tinha a data de 23 e havia sido publicada no dia 25.

Eu reputo que o pior castigo que pode dar-se ao Sr. Presidente do Ministério é votar a sua proposta.

Naturalmente ela dormiria o mesmo sono que atacou as autorizações que demos para se legislar sôbre câmbios.

Faço a justiça de acreditar no republicanismo do S. Exa. e nós bons desejos que tem de continuar prestando os maiores e melhores serviços ao regime.

Não o ataco propositadamente.

Digo somente que não voto a proposta.

Não representa isto nenhuma traição.

Quem apoia o Govêrno?

Uma maioria compacta e sólida.

S. Exa. vindo com esta proposta, significa que quere pôr à prova êsse apoio ou quero abandonar o Govêrno.

Há pouco S. Exa. arredou a hipótese de querer deixar o Govêrno.

Quere então pôr à prova o apoio que lhe é dado pela maioria.

Nestas condições, e tendo já marcado a minha posição, nada mais tenho a dizer.

Oxalá que eu encontrasse sempre na minha frente oposições semelhantes àquela que eu faço ao Sr. Presidente do Ministério e Ministro das Finanças.

Não farei nenhuma espécie de obstrucionismo, embora considere que concedendo-lhe nós estas autorizações, iremos cometer um acto que apenas serve para desprestigiar a instituição parlamentar.

Esclarecido que não faço nenhuma injúria às intenções patrióticas e republicanas do Sr. Presidente do Ministério, eu, que não tenciono voltar a usar da palavra sôbre êste assunto, julgo o problema nitidamente explícito.

De um lado estão as maiorias que julgam inconstitucional o pedido destas autorizações, que seriam a última machadada a dar no actual Parlamento; do outro lado está a maioria firme e sólida, disposta a conceder tudo a êste Govêrno.

O Sr. Presidente do Ministério disse aqui um dia que preferia o apoio das minorias ao apoio da maioria transformada em carneiros de Panúrgio.

Se S. Exa. agora se sente muito feliz por encontrar ò apoio e ter na sua comitiva ps tais carneiros, de Panúrgio, dou-lhe os meus parabéns.

Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. Carvalho da Silva: — Sr. Presidente: não esperava usar da palavra, porque nunca supus que, depois de não ter havido um único Deputado que se levantasse a defender o Govêrno, êste se mantivesse nas cadeiras do Poder.

O Sr. Cunha Leal pôs a questão com a clareza própria do seu talento e dás suas altas qualidades de parlamentar.

O mesmo não posso dizer da maneira como o Sr. Presidente do Ministério lhe respondeu.

Quando o País atravessa uma hora grave, quando é preciso estudar e encarar os problemas nacionais para atacar a situação verdadeiramente angustiosa que atravessamos, é fantástico que o Sr. Presidente do Ministério se levante apenas para dizer que é necessário defender a República.