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Sessão de 20 de Fevereiro de 1924 11

Vamos, portanto, dentro desta orientação matemática fazer a demonstração.

Recordam-se V. Exa. de que quando Ministro das Colónias o Sr. Ferreira da Rocha correu o boato de que S. Exa. iria chamar à Metrópole o Alto Comissário de Angola.

Não conversei a êste respeito com o Sr. Ferreira da Rocha, mas reputo êste boato inteiramente falso. A verdade, porém, é que o simples boato pareceu incomodar as pessoas que, naturalmente para se valorizarem aos olhos do Alto Comissário, julgavam que era indispensável continuar essa obra de subserviência a que há pouco me referi.

Assim como elas verificavam que o jornal de maior tradição republicana, de tam reclamada tradição republicana, O Mundo? que ainda a êsse tempo não tinha em sua volta a sociedade dos seus amigos, mas que já era um enorme jornal republicano, era duma utilidade preciosa no momento em que a personalidade do Sr. Norton de Matos era ameaçada, os seus serviçais não hesitaram em pedir o seu auxílio que o jornal O Mundo lhes prestou. Mas de graça?!

Não, fê-lo e fez bem caro, pois, como já disse à Câmara, só por três ecos levou 7.560$.

Tenho de dar razão ao Sr. Roberto Carlos da Fonseca, quando dizia que os jornais vendiam caro os seus favores, assim como eu tenho razão quando dizia que melhor fôra que S. Exa. o Sr. Alto Comissário pagasse êsses ecos da sua algibeira.

Assim é que estava certo!

Devo dizer a V. Exa. que estou dispôsto à facultar as provas do que afirmo, e que nenhuma afirmação farei que não possa documentar.

Não foi só nêstes três ecos que O Mundo fez o elogio do Alto Comissário, fê-lo também, em três números diferentes de 5, 7 e 9 de Outubro.

Nesses artigos não há senão louvaminhas de baixa qualidade, digo baixa, porque é paga, e, ainda que fôsse de graça, achava que era muito dinheiro.

Parece-me que pouco antes de 19 de Outubro de 1921 era a época em que S. Exa. estava mais em perigo, porque então, V. Exa. não imaginam, o esfôrço da publicidade foi enorme para segurar o Sr.

Norton de Matos contra o Ministro que o ameaçava e de que quatro dias depois se viu livre!

O Mundo publicava na primeira página com o sugestivo título «A circulação fiduciária e a obra do Sr. Norton de Matos» um artigo que vou ler.

Eu não discuto se S. Exa. prestou ou Dão relevantes serviços ao País na participação da Grande Guerra, mas o que eu não compreendo é que êste artigo fôsse escrito por mercenários pagos com p dinheiro de Angola. Isto não está certo; estaria certo se fôsse pago pelo Sr. Norton de Matos, mas mais certo estaria se não fôsse pago por ninguém!

Apoiados.

Mas, continuando, julgam V. Exas. que a imprensa ficou só pelo célebre dia 15?

Não: no dia 15 A Manhã publicava um artigo parecido com os anteriores, com a diferença de ser mais caro 2$ por linha; é claro, preço de amigos!

Risos.

Custou 4.120$!

O Mundo publicava um artigo intitulado «Portugal Maior».

Vejam V. Exas. a ofensiva quê se fazia contra o Ministro de então, o Sr. Ferreira da Rocha.

Esta colossal obra de subserviência deve ter custado mais de um milhar de contos.

Os jornais, quando não tinham mais que fazer, copiavam-se uns aos outros.

Assim o jornal A Imprensa da Manhã copiou o artigo que no jornal O Mundo veio publicado com a epígrafe «O Portugal Maior», em seis dias consecutivos, e recebeu as seguintes quantias: 1.500$, 1.440$, 1.390$, 1.277$, 950$ e 1.440$.

Estas quantias foram generosamente pagas pela Agência Geral de Angola.

Chegou-se ao cúmulo de haver um jornalista que declarou em determinado momento que, quando pretendia arranjar dinheiro, escrevia para certos jornais artigos laudatórios sôbre o Alto Comissário de Angola.

Era certo, no dia seguinte recebia á paga da respectiva agencia.

Só eu fôr chamado a depor em qualquer processo que possa derivar dêste debate, apresentar-me-hei prontamente com testemunhas do que deixo afirmado.