O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

14 Diário da Câmara dos Deputados

Alto Comissário, mas quero reduzi-la às suas verdadeiras proporções.

Em 1916 estava concluída uma grande parte da plataforma até ao Lubango; e o que fez S. Exa.? Assentou a linha. Foi esta á glória do Alto Comissário, foi êste o esfôrço de S. Exa.!

Além disso existia na colónia o Caminho de Ferro de Benguela; pois bem, estava proibido fazer-se nova emissão de obrigações; pois foi permitido fazer-se nova emissão de três milhões de libras do obrigações para se poderem cumprir os contratos já feitos. Êste caminho de ferro tinha já a plataforma construída, faltando-lhe apenas trinta quilómetros de via. Porque não avançou mais? Porque as condições do mercado de Londres o não permitiam? Não sei; o que é certo é que o progresso do .Caminho de Ferro de Benguela não constitui ainda aquele elemento que há-de levar até aos astros a obra administrativa do Sr. Norton de Matos!

Resta o Caminho de Ferro de Amboim; estão construídos 30 quilómetros de plataforma... e mais nada.

Em matéria de caminhos de ferro eu não logro descortinar mais nada na grande obra do Alto Comissariado!

Vamos aos factos. Fizeram-se contratos com três casas sem que se cumprisse a obrigação de mandar os contratos ao conselho de finanças! Não havia um plano de trabalhos a realizar, mas em compensação foi contratado, em ouro, pessoal cujos empreiteiros tinham de comissão entre 10 a 20 por cento e no fim de 1922 não havia uma estaca espetada. Havia muito em dinheiro, mas pouco em obra.

Falou-se muito em construção de estradas e o número de 20:000 quilómetros andava sempre a boiar à superfície de todos os jornais quando queriam louvar a obra do Sr. Alto Comissário, parecendo até, que não havia uma única estrada antes da chegada de S. Exa.. Qual foi a obra de S. Exa.?

Abrir uma picada ali ou acolá, mas nunca julguei que isso chegasse para fazer a glória de um Alto Comissário, porque não chegava para fazer a glória de um simples chefe de circunscrição!

Fala-se, também, muito em construção de edifícios. Num discurso pronunciado pelo Sr. Norton de Matos no Conselho

Legislativo, antes de embarcar para a metrópole, dizia S. Exa. o seguinte:

Leu.

E, a seguir, enumerando as construções que em 1921-1922, 1922-1923 tinham sido realizadas ou em via de conclusão, S. Exa. apontou o número de 459 sendo 103 no distrito de Benguela. Ora em Benguela existe um jornal intitulado o Jornal de Benguela, jornal que é dirigido por uma pessoa da maior respeitabilidade, o Sr. Manuel Mesquita. Pois veio nesse jornal a seguinte interessante notícia:

Leu.

Pregunta aos habitantes de Benguela um seu conterrâneo onde estão as tais 103 construções. Muito pouco devia ser a sensibilidade moral dêste homem para fazer aos seus vizinhos uma tal pregunta se essas construções lá existissem.

Será então verdade que no distrito de Benguela não existem os 103 edifícios a que aludiu o Sr. Norton de Matos? Deixo em suspenso perante a Câmara esta interrogação. Dum lado está o Alto Comissário afirmando que sim, do outro o Sr. Manuel Mesquita dizendo que não. Eu fico-me na posição de espectativa.

Vem agora a pelo lembrar o que foi o élan patriótico provocado em Portugal pela atitude dos poveiros que, tendo nascido portugueses e desejando morrer portugueses, regressaram a Portugal, para mais tarde serem enviados a Pôrto Alexandre. O Sr. Norton de Matos mandou fazer lindos chalets, que custaram centenas de contos, mas não pensou em lhes proporcionar os meios de angariarem a vida.

Pensou-se em festas em que, se o champanhe não correu, os bolos e o vinho do Pôrto não faltaram. Mas não se pensou no trabalho a dar a êsses homens e assim êles foram empregados nos trabalhos de salga em péssimas condições, visto que, em quanto os indígenas trabalham curvados, os brancos só podem trabalhar de pé.

Êstes depósitos de salga pertenciam a uma espécie de sindicato de Mossâmedes, mas como os poveiros não pudessem adaptar-se às condições dêsse serviço, resolveram abandonar Angola, ficando a dever dinheiro a êsse sindicato e até o próprio vinho do Pôrto com que tinham sido presenteados à sua chegada.

Trágica é também a história de muitos