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18 Diário da Câmara dos Deputados

Em 1926 termina o monopólio dos tabacos.

É necessário que sôbre o novo contrato ou como eu pretendo, sôbre a liberdade de fabrico, se obtenha u m empréstimo com a consignação do rendimento dos tabacos para de um modo eficaz se acudir à situação do País.

É pois nesta altura, decorridos trinta e três anos sôbre o primeiro empréstimo, que o Sr. Álvaro de Castro se lembra de determinar que o juro das obrigações será pago exclusivamente em francos, em prejuízo dos portadores franceses e portugueses, é certo, mas também de alguns portadores ingleses, que na melhor boa fé tinham adquirido no seu país obrigações que foram pagas em libras e que hoje se vêem privados do pagamento dos juros nessa moeda para os receberem em outra que está reduzida a cêrca de um têrço do seu valor.

Porque sei medir bem a responsabilidade das minhas palavras, não afirmo que dentro do contrato não haja o direito de tomar a atitude que o Sr. Álvaro de Castro tomou, mas o que afirmo é que, a dois anos da terminação do contrato, não havia vantagem de nenhuma espécie em ir mostrar ao mundo que éramos capazes de nos servir de todos os pretextos para faltar ao que solenemente tínhamos prometido.

Não é em defesa dos portadores das obrigações que eu protesto, mas em nome dos interêsses nacionais, em nome do prestígio» e do respeito do que careço para o meu País.

A acção que o procedimento do Sr. Ministro das Finanças terá em futuras negociações de empréstimos garantidos pelos rendimentos dos tabacos ou por quaisquer outros, será tido em tal conta que muitíssimo caro êle virá a custar ao Estado.

Apoiados.

Faço justiça ao Sr. Álvaro de Castro.

Reconheço as dificuldades com que luta e que se segura a todos os recursos para ver se consegue alguma cousa útil.

Presto lhe essa justiça, porque não chega a ser favor.

Há porém expedientes que não se adoptam, porque são muito mais prejudiciais do que aqueles que se tomam à plena luz do dia.

O Sr. Álvaro de Castro tem, revelado na pasta das Finanças o feitio de homem violento, de homem de espírito tigrino, de uma valentia que só sei comparar à do um bravo matador de touros.

Sou peninsular e não sei se nas minhas veias porventura corre algum sangue árabe.

Gosto de touradas — à portuguesa e à espanhola. Confesso que me sinto sugestionado quando na frente de um touro bravo vejo um valente matador manejando a sua espada e dominando a fera. E o Sr. Álvaro de Castro, no modo como tem encarada as questões, de frente, dá-me a impressão do bravo matador que vai dominar as feras que encontra na sua frente. No emtanto, eu tenho também um pouco o hábito de recrear o meu espírito, de vez em quando, nos círculos e, ainda pela mesma circunstância de amador de touradas, sorriu-me quando, diante de touros simulados, vejo pessoas com uma brava espada na mão avançarem para a fera para a matar, encantando-me a ingenuidade das crianças que imaginam que a espada é de aço e se enterra no corpo da fera simulada, quando afinai ela tem uma mola que a faz recolher ao tocar no touro. É como o Sr. Alvará de Castro tem procedido para com as entidades que tem pretendido esmagar, avançando para elas como um bravo toureiro e saindo, afinal, como um simulador da arte de matar.

Foi assim que fez com o Banco de Portugal, bem como com a Companhia dos Tabacos, e, quanto a esta, bem deploràvelmente quando afirmou publicamente que não abonaria o dinheiro necessário para o pagamento do juro das obrigações, visto que seria abonado pela Companhia, para afinal, como se a matar o tal touro de canastra, acabar em remeter para Paris os francos respectivos.,

Sr. Presidente: se isto é assim na parte financeira, apenas analisada a largos traços, o que se passa na parte administrativa não é melhor.

O Sr. Álvaro de Castro, não contente em tornar conhecidas as suas medidas pelo Diário do Govêrno e pelos jornais que o apoiam, fez um relatório que trouxe ao Parlamento; mas, Sr. Presidente,, é realmente mau prometerem-se cousas que depois se não cumprem.