O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

28 Diário da Câmara dos Deputados

A República tem todas as condições de vida. Se alguém se manifestar contra as condições sociais existentes, o Govêrno actuará inexoravelmente, na certeza de atingir os que efectivamente mereçam castigo.

O orador não reviu.

O Sr. Vasco Borges: — Com efeito esta questão reveste um aspecto de ordem privada e ainda outro que não pode deixar de politicamente impressionar todos.

O aspecto de ordem privada manifestou-se num conflito resultante da maneira como a empresa particular entende que deve dirigir a vida interna da sua casa.

Mas há o outro aspecto, que não pode deixar de impressionar a todos nós, Deputados, a todos quantos intervêm na vida política portuguesa.

Há os que procuram servir-se da imprensa para fins inconfessáveis.

O conflito é entre os jornalistas e entre os leitores.

Há elementos que pretendem servir ilegitimamente os seus interêsses. Querem
Que toda a imprensa esteja ao seu serviço.

Êste aspecto da questão teria, certamente, menos gravidade num pais em que houvesse uma opinião pública consciente capaz de assimilar ou repudiar o que nessa imprensa se dissesse; mas num país como o nosso, em que a opinião pública é aquilo que os jornais querem que seja, esse aspecto reveste uma importância capital para a República e para a Nação.

Muitos apoiados.

Bom foi que esta questão tivesse sido aqui levantada para que o País saiba em que termos de inconfessabilidade se redigem muitos dos jornais de Lisboa. O que a empresa do jornal o Diário de Noticias se propunha fazer era produzir, encapotadamente, o bom e o mau tempo dentro da República (Apoiados) e era por isso que se ponha o corpo de redactores dêsse jornal em completa incomunicabilidade.

Sr. Presidente: afirmo-o com absoluta sinceridade e convicção: prefiro mil vezes os ataques, por mais violentos que sejam, dos adversários da República do que o apoio e a adulação daqueles que à sua sombra procuram locupletar-se com os

dinheiros do Estado e que nenhuma dúvida põem em o atraiçoar, desde que isso
melhor possa servir aos seus interêsses.

Apoiados.

Eu sei que não está nas atribuições do Govêrno intervir desde já. Uma cousa, porém, há que êle pode começar a pôr em prática desde êste momento não confiar o seu prestígio aos elogios que lhe possam ser feitos por essa imprensa...

O Sr. Presidente, do Ministério e Ministro das Finanças (Álvaro de Castro): — Nunca tive relações com essa imprensa, nem com qualquer outra. O Govêrno não precisa de elogios dela porque tendo, feito sempre uma obra profundamente, republicana, o aplauso de todos os republicanos lhe basta.

O Orador: — O Govêrno tem de defender o País dessas entidades, como dos piores inimigos do Estado. A propósito da atitude dos redactores do Diário de Notícias, o Sr. Presidente do Ministério empregou a palavra «greve». Ora, como não se trata de uma greve, eu discordo de S. Exa. e peço-lhe que rectifique essa palavra, que não é aqui cabida.

Concluindo, endereço as minhas homenagens à atitude patriótica que os redactores do Diário de Noticias assumiram perante os potentados que queriam escravizar a sua acção.

Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. Presidente dó Ministério e Ministro das finanças (Álvaro de Castro): — Cumpre-me declarar que não tive nenhum intuito desprimoroso para com os jornalistas, empregando a palavra «greve».

Tenho mesmo entre êles alguns amigos-pessoais.

Acho que fazem bem, lutando pela liberdade de pensamento.

O orador não reviu.

O Sr. Presidente: - A próxima sessão é amanhã, à hora regimental, com uma ordem dos trabalhos.

Está encerrada a sessão.

Eram 20 horas.

O REDACTOR—João Saraiva.