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Sessão de 9 de Maio de 1924 9

gás, se converteu ao catolicismo fez confissão geral, vai hoje todos os dias à missa e comunga duas vezos por semana.

Pouco me importa, Sr. Presidente, que os Srs. professores comunguem, se confessem ou vão à missa todos os dias, porém, o que não faz sentido é que estejam procedendo de forma que só desrespeitem as leis e se ofenda a neutralidade do ensino. Lembremo-nos do que se fez, ainda não há muito tempo, na Universidade de Coimbra, relativamente ao pessoal menor que estava na situação de adido, o qual, foi todo colocado, à excepção dos indivíduos que eram republicanos.

Isto foi feito propositadamente e com o conhecimento do Sr. Ministro da Instrução, não me constando que até hoje se tenham tomado quaisquer providências sôbre o assunto e não me admirando eu que êstes casos se dêm, tanto mais quanto é certo que a Universidade de Coimbra tem à sua frente como reitor uma criatura que apenas possui um pequeno curso, pois que é um simples farmacêutico de segunda classe.

Mas não fica por aqui, Sr. Presidente, a atitude estranha da Universidade de Coimbra. O Sr. Ministro da Instrução, quando da sua ida àquela cidade, e visitando a Universidade, foi ali recebido apenas pelo guarda mor. No mesmo estabelecimento de ensino se procedeu contrariamente às ordens do Sr. Ministro da Instrução relativas à comemoração do dia 9 de Abril, comemoração essa que foi feita em todas as escolas do País monos na Universidade de Coimbra.

Quando do cortejo de homenagem à memória do Dr. José Falcão, o actual reitor declarou que não queria intervir na organização dessa festa, por isso não queria política adentro da Universidade, como se aquele acto pudesse ser considerado político...

Devo dizer, em abono da verdade, que não posso compreender que representantes do Govêrno e membros do Poder Executivo, a quem cumpre zelar pelo prestígio das instituições, se conformem com procedimentos desta natureza.

Isto não faz sentido, e, assim, devo dizer que estou pronto a levantar aqui a questão tantas vezes quantas forem necessárias, até que o Poder Executivo faça

sentir a êsses senhores que não está disposto a permitir a continuação dum tal estado de cousas.

Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. Ministro da Instrução Pública (Helder Ribeiro): — Sr. Presidente: ouvi com a máxima atenção as considerações feitas pelo ilustre Deputado Sr. Tôrres Garcia, e, em resposta, devo dizer que, se bem que não tivesse conhecimento dos factos por S. Exa. apontados, sou o primeiro a lamentar a atitude assumida pela Universidade de Coimbra.

Pode V. Exa. ficar certo de que vou apurar o que há de verdade sôbre o assunto.

Ninguém é mais tolerante do que eu; tenho-me afirmado como tal em todos os actos da minha vida.

Ninguém tem maior respeito do que eu pelas crenças de cada um fora do exercício das suas funções oficiais; mas, por isso mesmo, não estou disposto a consentir ocupando êste lugar, que se procure formar em qualquer estabelecimento de ensino, sobretudo numa Universidade, o mais pequeno espírito de alheamento do sentir colectivo que domina a nação.

A Universidade tem de encarnar o sentir das instituições.- o espírito republicano que se impõe a toda a nação desde 5 de Outubro de 1910.

O Sr. Paulo Cancela de Abreu: — Impõe-se com os escândalos?

Vozes: — Ordem! Ordem!

O Orador: — Impõe-se pela fôrça da vontade do país, que a monarquia não conseguiu dominar.

O povo quis, quere e há-de querer a República, em nome do progresso e da civilização que ela representa, como ficou demonstrado pela ida do nosso exército à Grande Guerra.

O Sr. Paulo Cancela de Abreu: — É a civilização dos assassínios e das ladroeiras!

Protestos das bancadas republicanas.

O Sr. Presidente (agitando a campainha): - V. Exa., Sr. Cancela de Abreu,