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14 Diário da Câmara dos Deputados

Quem esteve no Pôrto e se bateu pela República, e ou fui um deles, não esquece nunca o nome de António José Lima e Luís António da Silva.

O cheio da direcção dos Caminhos do Ferro do Minho e Douro foi o agente de Paiva Couceiro, o chefe de estado maior na organização dos serviços ferroviários, foi a seu alma danada o braço direito, na condução de tropas, e na sua acção de ódios e perseguições.

Foi êsse indivíduo que dirigiu voluntária e orgulhosamente todos os comboios militares, exercendo pressões sôbre muitos desgraçados e oferecendo serviços aos monárquicos, e emquanto aos republicanos perseguindo-os e fazendo-os prender, ou obrigando a fugir todos aqueles que tiveram a hombridade de se recusar ao cumprimento das suas ordens. Luís António da Silva era já antes dêstes factos um nome tristemente celebrado no Minho e Douro! Luís António da Silva era já conhecido por sindicâncias feitas na direcção daqueles Caminhos de Ferro, por actos graves de comprovada desonestidade, em que o seu nome se encontrava sempre envolvido. Luís António da Silva, numa sindicância feita após a proclamação da República, começada, se não estou em êrro, pelo Sr. António Maria da Silva e terminada pelo Sr. Duarte Leite, apareço como um perseguidor de todos os agentes que tinham a coragem de se confessar republicanos; e vinham já do tempo da monarquia as acusações graves feitas a êste funcionário por cumplicidade em actos desonestos praticados na Direcção do Minho e Douro, e, sobretudo, num celebre caso de desvio de grandes quantidades do bacalhau, que ficou conhecido no Pôrto pela designação pitoresca de «Enterro do bacalhau». Eram graves as responsabilidades dêsse funcionário nesses actos e certamente só a uma, pode= rosa protecção política só devo e êle não ser então demitido. Está ainda na memória de toda a gente do Pôrto o que foram as acusações graves formuladas, então, na imprensa, contra êsse funcionário. Não tenho, infelizmente, à mão a colecção dos jornais dessa época, onde o assunto foi largamente debatido e por onde passou ligado às mais graves acusações o nome do Sr. Luís António da Silva; mas tenho aqui um número do jornal A Tribuna, de

3 de Agosto de 1921; já então dirigido pelo Sr. Domingues dos Santos, onde só publicavam algumas das conclusões da sindicância então realizada. Vou, pois, ler a V. Exa. algumas das mais interessantes conclusões.

Leu.

Ora um dos membros dessa comissão de compra de lenhas que. aqui se refere era o funcionário Luís António da Silva.

Sr. Presidente: estas considerações parece que mostram à Câmara que não eram fundamentadas as afirmações do Sr. Ministro do Comércio quando, em resposta ao Sr. Carlos Pereira, dizia que só tratava do funcionários com largos anos de serviço ao país e até à República.

Enganou-se S. Exa. quando fez essa afirmação: são efectivamente largos anos, mas de serviços prestados aos seus interêsses e -aos dos seus sócios, porque é necessário que a Câmara saiba que êstes funcionários eram negociantes e também sócios e dos mais altamente colocados!...

Do outro agente mandado readmitir pelo Sr. Ministro do Comércio, o engenheiro António José do Lima, basta dizer que, quando chefe das oficinas dos Caminhos de Ferro do Minho e Douro, ofereceu-se para fazer nessas oficinas a reparação de um dos canhões dos insurrectos monárquicos do norte e pretendeu montar num vagão um canhão para bombardear a canhoneira Limpopo, que o Govêrno da República tinha mandado para combater os monárquicos.

Mas ainda há mais: todos se recordam das pontes dinamitadas dessa época; ainda não há muito tempo o Parlamento votou a verba necessária para a reparação da celebre ponte de Mosteiro. Pois todas essas pontes foram dinamitadas debaixo da direcção dêsses dois funcionários,... que tantos serviços têm prestado à República, no dizer do Sr. Ministro do Comércio!

Nessa ocasião foram instaurados dois processos: um disciplinar e outro político.

Pelo primeiro êsses funcionários foram demitidos por abandono de lugar, mas mais tarde, provado que tinham estado presos, o Conselho de Administração dos Caminhos do Forro readmitiu-os, mas ficando afastados do serviço até a conclusão do processo político.