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Sessão de 21 de Maio de 1924 17

to que eu, como parlamentar, me abalance a trazer a minha cota parte, boa ou má, mas como a souber apresentar, para o assunto em discussão.

Eu tenho a convicção de que nós, os parlamentares, temos a obrigação de não nos restringirmos à discussão dos assuntos que mais do perto mereçam as nossas preferências; devemos demonstrar que somos capazes de ir acompanhando os diversos, e complexos assuntos que a esta Câmara são trazidos, provando que para os podermos versar nos não falta o principal elemento, que é a vontade de trabalhar. Demais eu tenho presente que actualmente existe em toda a parte um mal enorme de que também está sofrendo a sociedade portuguesa, e êsse mal é a campanha contínua contra a acção dos Parlamentos. Mais uma razão, pois, para levantarmos o Parlamento, de que fazemos parte, às alturas das exigências que o espírito público tem em relação a nós.

Sr. Presidente: a campanha contra o Parlamento tem-se alastrado. Toda a gente de norte a sul se julga no direito, que eu contesto, de atirar pedras àqueles que fazem parte do organismo parlamentar. Parece que os portugueses têm um pouco a inania de descortinar aqui e além as causas do seu mal, e quando, com verdade, as não encontram, se alguém lhos aponta um fantasma, seja êle qual fôr, imediatamente convergem para o fantasma todas as iras e todos os ódios, e neste caso o fantasma é o Parlamento.

Consequentemente êste é o alvo das iras e dos ódios da maior parte das pessoas que, desconhecendo a acção do Parlamento, a vêem apenas através do que parte da imprensa diz e de um ou outro acto praticado pelos homens do Govêrno.

Sr. Presidente: é conveniente recordar que á campanha parlamentar teve a sua origem, sobretudo, nas palavras proferidas por alguns dos Presidentes dos Ministérios que têm passado pelas cadeiras do Poder e por alguns Ministros das Finanças. Foram êles que em várias ocasiões, em diversas emergências, em determinadas circunstâncias cheias de dificuldades - creio - apontaram à execração pública o Parlamento como causa única de todos os prejuízos que afectam a nossa sociedade e até mesmo como culpado - êles o disseram aqui- de não estarmos hoje nadando em ouro.

E porquê? Porque o Parlamento não aprova as salvadoras propostas que lhe são apresentadas com aquela rapidez que S. Exas. têm desejado.

No emtanto, tenho dito de mim para mim que a virtude do Parlamento tem estado precisamente em constituir uma barreira contra a qual se tem quebrado as pretensões de alguns Ministros das Finanças e Presidentes de Ministérios.

O Parlamento foi atacado quando do célebre empréstimo defendendido à outrance, pelo Sr. Vitorino Guimarães.

Era necessário aprová-lo com urgência dentro de certo prazo, no ponto de vista, que S. Exa. aqui trazia.

Nessa ocasião o Parlamento fez retardar a marcha do carro que o Sr. Velhinho Correia procurava guiar.

Maus portugueses eram os que resistiam de qualquer maneira contra a proposta do empréstimo, apodados como pessoas que mal mereciam dêste país, por lutarem contra as pretenções do então Sr. Ministro das Finanças.

O que é certo é que o futuro, a breve trecho, veio demonstrar que só tinham razão aqueles que não abundavam nas ideas de S. Exas.

Para mim o empréstimo do Sr. Vitorino Guimarães representa, nas páginas financeiras do nosso país, um dos factores do tremendo desequilíbrio financeiro com que estamos lutando.

Sr. Presidente: fez-se por aí fora correr aos quatro ventos a afirmação de que a proposta de empréstimo não tinha surtido os seus efeitos porque o pensamento do Ministro de então, Sr. Vitorino Guimarães, tinha ficado em meio.

Não havia forma de arrancar dêste terrível Parlamento os meios precisos para que pudesse levar a cabo a sua obra.

Eu permito-me, salvo o devido respeito pelas opiniões alheias, e especialmente pelo modo de ver do Sr. Vitorino Guimarães, dizer que era necessário que ficasse uma porta aberta.

Ficou essa, e bom foi que houvesse uma maneira de se explicar aquilo que, em outras condições, seria difícil de explicar.

Vale a pena, embora isso seja um tanto fastidioso lançar um golpe de vista, sôbre