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Sessão de 13 de Junho de 1924 25

por que estranhei o procedimento que houve para com o Alto Comissário em Angola.

Tenho dito.

Vozes: — Muito bem.

O Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros (Domingos Pereira): — Sr. Presidente: não sei a quem se quereria referir o Sr. Rodrigues Gaspar quando falou em aventureiros da política que S. Exa. conhece muito bem.

Suponho que não teve no pensamento referir-se, com semelhante expressão, ao Ministro dos Negócios Estrangeiros da República Portuguesa; mas, apesar de assim o supor, não quero deixar de dizer que repito, absolutamente, semelhante expressão seja qual fôr a personalidade política a que ela seja dirigida.

A linguagem humana serve para traduzir os nossos pensamentos, mas também se presta para exprimir paixões na hora em que elas dominam os homens.

E o homem, quando fala apaixonadamente, classifica sempre os outros só como quere e entende.

O Sr. Norton de Matos não me solicitou de modo algum a sua nomeação para Londres.

O Sr. Rodrigues Gaspar disse aqui, em plena Câmara dos Deputados, que S. Exa. escreveu a alguém uma carta apresentando a sua pretensão.

Se o tivesse feito, não seria isso uma razão determinante.

O mau caminho que o Sr. Rodrigues Gaspar apontou de se satistazerem os desejos de toda a gente que tem ambições menos legítimas não o sigo eu.

Estou diante de uma Câmara que conhece bem o Sr. Norton de Matos.

Se o Sr. Rodrigues Gaspar desconhece as qualidades de S. Exa., se desconhece quaisquer actos diplomáticos por S. Exa. praticados que impusessem ao País, conheço eu o suficiente da capacidade do Sr. Norton de Matos, da sua inteligência, do seu patriotismo, do seu espírito de sacrifício pelo País e pela República, para lho fazer a justiça de reconhecer que tem as qualidades necessárias para bem representar a Nação e prestigiar a República.

O Sr. Rodrigues Gaspar (interrompendo): — Não discuto tal ponto.

V. Exa. conhece-o, ao passo que eu o desconheço, não podendo, portanto, discuti-lo.

O Orador: — V. Exa. usa o abusa da ironia; eu respondo com esta serenidade, com esta firmeza.

O Sr. Norton de Matos não praticou quaisquer actos diplomáticos que o imponham ao respeito de V. Exa. e que obriguem V. Exa. a reconhecer que era a pessoa indicada para Londres?

Então onde é que se vão buscar, os representantes do País no estrangeiro ?

Não basta reconhecer as suas qualidades, tam comprovadas já, quer como Ministro da República, quer como Alto Comissário, de cuja obra V. Exa. discorda, parecendo, no emtanto, ser agora um seu apologista?

Um àparte do Sr. Cancela de Abreu.

O Orador: — E a minha opinião; e para ter esta opinião não preciso pedir licença à bancada monárquica, porque, como Ministro da República, ao praticar quaisquer actos, não costumo inspirar-me nos actos dos monárquicos, quer do passado, quer do presente.

O Sr. Cancela de Abreu descobre contradições nos outros, mas não descobre as suas. nem as dos seus correligionários.

Não posso consentir, Sr. Presidente, não consentirei nunca, com a minha cumplicidade tácita, que uma representação de Portugal no estrangeiro seja deminuída por quem quer que seja.

Tenho o dever de assim proceder, quando mais não seja por decoro próprio.

Como Ministro hei-de prestigiar sempre a nossa representação e é por isso que eu formulo a minha discordância com as palavras que o Sr. Rodrigues Gaspar proferiu na sessão de anteontem e que hoje repetiu, continuando a afirmar que foram os mais altos interêsses da República e do País que aconselharam a nomeação do Sr. Norton de Matos para Embaixador em Londres.

Tenho dito.

Vozes: — Muito bem.

O orador não reviu.