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10 Diário da Câmara dos Deputados

É costume a República ir buscar o exemplo dos países mais esquisitos ou afastar dos.

Desta vez foram ao extremo Oriente buscar o Japão.

Ora o Japão contraiu um empréstimo, é certo, em condições onerosas.

Mas a sua situação é muito especial em conseqüência do grave cataclismo de que foi vítima, e que urge remediar.

E, feitas as contas, o encargo do empréstimo para o Japão é de 6 por cento ouro; ao passo que o empréstimo dê Moçambique terá o encargo de 8 por cento ouro; e o Japão não abdicou da sua dignidade e da sua soberania.

O Sr. Herculano Galharda disse no Senado que as obras projectadas beneficiariam mais os estranhos vizinhos da colónia do que a própria província.

Aí têm V. Exas. mais um testemunho insuspeito.

O Sr. Herculano Galhardo não teria dito isto, se, em sua consciência, o não reconhecesse.

Aconselho o Sr. Ministro das Colónias a que ponha sob reserva os pedidos que venham de Moçambique para que o empréstimo seja votado.

Basta que nos lembremos do que se passou a meu respeito, quando há dois anos tive a coragem de atacar dêste lagar o omnipotente imperador Norton de Matos.

Apareceram telegramas das forças vivas da colónia protestando contra a «campanha Cancela de Abreu». Ainda me rebordo de ter visto o Sr. Visconde de Pedralva agitar nervosamente um dêsses, papéis e dizer que Angola se levantava contra a especulação dos monárquicos.

Pois, agora, o Alto Comissário foge, abandona o seu pôsto, e, afinal as tais fôrças vivas nem sequer piaram!

Não admira, porque eu sei que os tais telegramas de protesto contra a minha campanha foram expedidos em virtude de pedido o a sugestão do próprio Sr. Norton de Matos!

Que o acto do Sr. Norton de Matos equivale a uma fuga, disse eu. É verdade. O próprio Sr. Norton de Matos o declarou.

Numa entrevista concedida ao Século, em 30 de Janeiro último, ouvido sôbre a eventualidade de presidir a um governo

ou de chefiar um governo, e isto a propósito dos boatos que corriam a este respeito, disse o seguinte...

O Sr. Vitorino Godinho (interrompendo): — O que está em discussão é Moçambique ou Angola? E obstrucionismo. É uma vergonha.

O Sr. Carvalho da Silva: — É uma vergonha, mas é...

O Sr. Vitorino Godinho: — Peço a V. Exa. para chamar o orador à ordem.

O Sr. Carvalho da Silva: — V. Exa. está muito exaltado; mas quando aqui se queria discutir a acção do Alto Comissário em Angola, não votou essa discussão. Talvez se tivesse evitado os factos de hoje de que a maioria tem a responsabilidade tremendíssima. São réus perante o país.

O Orador: — Apelo para o testemunho daqueles que me dão a honra de me estar a ouvir, para que me digam se eu tenho ou não o direito de não reconhecer ao Sr. Deputado que me increpou autoridade para dizer que estou fazendo obstrucionismo. Bem se vê que aquele senhor não tem estado na sala.

A minha consciência está tranqüila.

Canso-me a trabalhar e a estudar todos os assuntos conscienciosamente, procurando sempre acertar e fundamentar o meu ponto de vista, o vem um Sr. Deputado, que é dos que estão aqui apenas para votar, dizer que o nosso procedimento constitui uma vergonha!

Vergonha é a inconsciência com que S. Exa. se dirigiu a mim. Vergonha é votar sem se saber o que se vota, ou os perigos do que se vota.

Não julguem que me assustem ou me fazem mudar de rumo.

Estou aqui para servir o meu país, e servindo-o, cumpro o meu dever.

Por proceder assim tenho perdido anos de vida. Arruinei por completo a minha saúde. Não deixo a meus filhos pensões ou outros benefícios do Estado.

Mas morrerei tranqüilo se morrer no meu pôsto.

De resto; não tenho estado a fazer política nesta discussão.

O Sr. Cunha Leal: — Apoiado.