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18 Diário da Câmara dos Deputados

Hoje vai a prata, amanhã vai o ouro.

Dir-me hão: porque é que eu me não revoltei na ocasião em que se publicou o decreto? Eu nessa ocasião não estava na Câmara, porque se estivesse, e quisesse falar, aconteceria o mesmo que a outros oradores que não lhes permitiram falar sôbre o assunto em negócio urgente.

Isto é uma política de muito pouca prudência, e pode dizer-se que é a política do desespero, a política da miséria. Foi dispor-se da prata que pertence ao Estado, que é o sangue do País.

Do País que não pode sujeitar-se a muitas sangrias; e a entrarmos assim nessa política de alienação, vendendo ou empenhando toda a riqueza nacional, não podemos deixar de chegar à conclusão de que o País está evidentemente à beira do abismo, quando na verdade ainda temos muitos outros recursos para o salvar.

Apoiados.

Tenho tido a,maior consideração e respeito pelo Sr. Álvaro de Castro, porém os seus processos administrativos não podem deixar de ferir o nos s Q sentimento de portugueses.

Repugnam-me os negócios escuros, pois a verdade é que êles prejudicam a dignidade nacional, e apenas servem para os adversários do regime tirarem efeitos políticos.

Como homem de bem, Sr. Presidente, não me pode deixar de repugnar o mistério do embarque da prata, que é na verdade um negócio escuro, porém a responsabilidade vai a quem tenha a coragem de a assumir;

A saída da prata significa que o sangue português está saindo do País, e uma nacionalidade que entra nessa política demonstra que está evidentemente à beira do abismo.

Repugnam-me, repito, êstes processos, que nada dignificam a República, e que só servem para os adversários do regime atacarem os homens e os seus processos.

Tenho dito.

Vozes: — Muito bem.

O orador não reviu.

O Sr. Portugal Durão: — Sr. Presidente: pedi a palavra para me referir a uma frase proferida pelo Sr. Almeida Ribeiro; mas, antes disso, torna-se necessário responder a uma pregunta feita pelo Sr. Velhinho Correia.

Preguntou S. Exa. a que qual é a diferença que há entre vender cambiais em Londres e vender a prata.

Devo dizer a V. Exa. que a diferença é apenas a seguinte: é a mesma que dá entre pagar uma dívida endossando uma letra, e vender uma propriedade para pagar uma dívida.

A prata, Sr. Presidente, pertencia ao Estado, e assim não podia nem devia ser alienada sem autorização desta Câmara.

Contra essa alienação é que eu protesto, e bem assim pela maneira como ela foi feita, não podendo, também, de neste momento deixar de chamar a atenção da Câmara para o ouro que se encontra depositado no Banco de Portugal, o qual não pertence ao Banco, mas sim única e exclusivamente aos portadores das notas.

Dito isto, vejo-me obrigado a fazer notar ao Sr. Almeida Ribeiro, que teve uma frase que evidentemente lhe escapou, e que certamente se não pode referir a ninguém, mas que eu, no emtanto, não posso deixar de levantar.

Disse S. Exa. que se anavalham aqui os homens públicos.

O que se fez aqui não foi anavalhar ninguém; e se bem que a frase implique qualquer cousa de traiçoeiro, eu devo dizer que nos ataques que fiz não tive O' intuito de agravar ninguém, tanto mais quanto é certo que tenho dado o meu apoio ao Govêrno, sempre que estive em concordância com êle.

Sempre que estive em discordância com. êsse Govêrno, talvez mesmo indisciplinadamente, foi no emtanto cara a cara, na 'frente do Sr. Presidente do Ministério. O homem que assim procede não anavalha ninguém.

Se falei neste momento, em que o Govêrno não está presente, usei do meu direito de Deputado, de cidadão, de português, para não deixar passar despercebido um facto que lá fora suscitou condenação.

Não, Sr. Presidente, não houve da minha parte, não houve da parte de ninguém o desejo de deminuir o carácter, as qualidades de republicano e de estadista do homem que se sentou naquela cadeira.

Tratou-se de factos; não se tratou de homens.