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Sessão de 30 de Junho de 1924 11

Além, daquele lado das bancadas monárquicas e pela boca do Sr. Paulo Cancela de Abreu, proferiram-se palavras que envolvem graves acusações para todos os homens do regime e em especial para alguns.

Proclamou-se que a administração pública estava entregue a quadrilhas, frase que é como que a repetição do que uma vez se escreveu num jornal que circulava em Lisboa, intitulado A Monarquia, e onde se dizia: «Está no Poder a quadrilha liberal».

Daquele lado repetiu-se a mesma afirmação, que, num momento de exaltação, foi proferida. Mas com uma agravante: a de querer atingir a dignidade de todos os homens que, com sacrifício, através da sua vida, têm servido com honestidade o regime.

Neste caso especial não houve pretexto para pronunciar essas palavras.

Dizem se em volta dum homem que está acima de todas as suspeitas, que tem sido, e é, um intemerato republicano, sempre digno, e que tem dado ò melhor do seu esfôrço à República.

Refiro-me ao Sr. Álvaro de Castro, que está acima de todas as suspeitas.

Apoiados.

Eu não podia de maneira nenhuma aceitar o modo de ver do Sr. Cancela de Abreu.

S. Exa. declarou que as suas palavras não atingiam os homens do Govêrno nem os parlamentares.

Mas a palavra «roubo» foi proferida conscientemente.

Não atinge os homens da República? Não podemos consentir que aqueles que tem feito tantos sacrifícios sejam abandalhados pelos representantes do regime que nos últimos trinta anos da sua existência não cometeu senão roubos, não cometeu senão latrocínios, atentando contra a liberdade dos cidadãos.

O Sr. Paulo Cancela de Abreu: — A minoria monárquica não quis referir-se nunca à honra dos homens do Govêrno, e sempre reconheceu que o Sr. Álvaro de Castro é um homem de bem.

O Orador: — Se na República se têm praticado roubos, ela tem tido a coragem, que a monarquia nunca teve, de remeter os ladrões ao Poder Judicial. Ou que roubaram na monarquia continuaram a servi-la.

O orador não reviu.

O Sr. Pereira Bastos: — O grupo parlamentar de Acção Republicana entrega nas mãos de V. Exa. a solução do conflito; mas declara que o não satisfizeram as explicações do Sr. Cancela de Abreu.

Se V. Exa. me permite chamarei a sua atenção para o facto de ter saído da sala um Deputado nosso colega, pertencente à Acção Republicana, e entendo ser preciso chamar a atenção de V. Exa. e da Câmara para êste facto.

O Deputado que saiu não se achava bem nesta sala emquanto êste assunto se não liquidasse.

Devem ter a liberdade de apreciação os Srs. Deputados da minoria monárquica, mas não a liberdade da injúria, o que é diferente.

O orador não reviu.

O Sr. Presidente: — Sr. Cancela de Abreu: como V. Exa. acaba de ouvir, por vários oradores que se referiram ao lamentável incidente determinado pelas palavras de V. Exa. a Câmara não ficou satisfeita com as explicações por S. Exa. dadas.

V. Exa. proferiu graves afrontas ao regime, e eu também não me dou por satisfeito com as explicações de V. Exa., porque ofendeu o Parlamento, que tem de fiscalizar a moralidade do regime.

V. Exa. disse que «o país estava entregue a uma quadrilha de ladrões».

Esta frase, visto ter declarado que não foi proferida com intenção de afrontar a República e os seus homens, V. Exa. não deve ter dúvida em retirá-la.

Apoiados.

É isto que mais uma vez eu poço a V. Exa., a quem convido a retirá-la, tanto mais, repito, que presta assim uma homenagem à Câmara.

Convido, pois, V. Exa. a retirar a frase que proferiu.

O orador não reviu.

O Sr. Paulo Cancela de Abreu: — Já declarei à Câmara que na minha frase eu não pretendi referir-me ao Parlamento ou ao Govêrno. De resto, eu não costume