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12 Diário da Câmara dos Deputados

estender a mão às pessoas que considero ladrões, e costumo estendê-la aos Srs. parlamentares.

Nada mais posso acrescentar.

O Sr. Presidente: — E profundamente de estranhar que V. Exa. não tendo a intenção de manter a injúria, não retire a sua frase.

A frase, torno a repeti-lo, foi esta: «O país tem estado entregue a uma quadrilha de ladrões».

A quem está o país entregue? Ao Govêrno e ao Parlamento.

Lamento, pois, que V. Exa. não retire a sua frase, e, assim, terei de usar um procedimento que preferia não pôr em prática.

Pedia a V. Exa. mais uma vez para retirar a frase, visto não ter intenção de manter a injúria.

O orador não reviu.

O Sr. Paulo Cancela de Abreu: — Devo dizer mais uma vez que não retiro a frase e que ela não teve a intenção que V. Exa. lhe atribuiu.

O Sr. Presidente: — Confesso que é deveras lamentável a insistência, de V. Exa., tanto mais quanto é certo que tendo V. Exa. já dado explicações que significam o propósito de não manter a injúria, em nada se deminuída retirando a frase que proferiu.

Pela última vez, pois, convido V. Exa. a retirar essa frase.

S. Exa. não reviu.

O Sr. Cunha Leal: — Sr. Presidente: não sei francamente se o acto que vou praticar será impolítico; porém, vou dizer em minha consciência o que penso sôbre o assunto.

Fui, Sr. Presidente, das pessoas que mais profundamente sentiram a frase aviltante contra o regime proferida pelo Sr. Cancela de Abreu, e tanto mais quanto é certo que nós temos dispensado aos Srs. Deputados adversários do regime toda a consideração que nós temos o direito de exigir para nós próprios.

O Sr. Cancela de Abreu proferiu essa frase impensadamente, como tantas outras que aqui têm sido proferidas, como por exemplo a de que o País está a saque, que julgo igualmente ser injuriosa para o regime.

O Sr. Cancela de Abreu, na verdade, sôbre o assunto já deu explicações que eu declaro francamente que me satisfazem (Muitos apoiados), pois, a verdade é que o Sr. Cancela de Abreu já declarou à Câmara que não era seu intuito atingir nenhum homem da República, nem nenhum Ministro.

S. Exa. proferiu essa frase impensadamente, repito, como na verdade outras idênticas aqui têm sido proferidas, porém, o que nós podemos é lembrar-lhe os escândalos praticados no tempo da monarquia, que também não foram poucos, o que prova que o mal não é do regime, mas sim infelizmente de alguns homens que fazem parte dêsses regimes.

Esta é que é a verdade, porém, o que não podemos a meu ver é colocar um homem que tem dignidade debaixo desta pressão «retire a frase» ou então teremos de adoptar o devido procedimento.

Sr. Presidente: V. Exa. fará aquilo que bem entenda dever praticar, pois a minoria nacionalista sujeita-se ao que V. Exa. determina em todo o caso pedimos licença para expor a nossa opinião.

O Sr. Cancela de Abreu afirma:

Primeiro. Que tem havido escândalos no regime republicano.

Segundo. Que êsses escândalos não são da culpa dos homens que servem as instituições.

É isto uma verdade monstruosa!

A melhor forma que temos de responder aos representantes daquele regime que conta desde Silva Carvalho até Mariano de Carvalho não sei quantos actos de corrupção, é meter na cadeia os criminosos dos Transportes Marítimos, da disposição do Rio de Janeiro e dos Bairros Sociais.

Desde que o Sr. Cancela de Abreu já explicou que na sua frase não quere referir-se aos homens representativos do regime, ficando ela para atingir alguns prevaricadores, eu dou-me por satisfeito, pois não quero cobrir êsses prevaricadores.

Recuso-me terminantemente a dizer que na República não tem havido crimes; Metam-se na cadeia os responsáveis dêsses crimes.