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Sessão de 30 de Junho de 1924 13

Depois de assim termos feito, voltar-nos hemos para o Sr. Cancela de Abreu e diremos: a Republica sabe castigar os criminosos, ao passo que a monarquia deixou impunes todos que delapidavam a Fazenda Nacional.

Em nome da minoria nacionalista declaro que nos satisfizeram as explicações do Sr. Cancela de Abreu.

O orador não reviu.

O Sr. Paulo Cancela de Abreu: — Como V. Exa. está encarregado de solucionar êste incidente, eu devo fazer-lhe a minha última e formal-declaração.

Mantenho inteiramente o que inicialmente disse e as 4 explicações que depois dei.

Não é verdade que a minha frase tivesse sido proferida impensadamente.

Podem expulsar-me; podem bater-me; podem matar-me, mas eu não retiro o que disse.

Nada mais.

O Sr. Carlos Pereira:—Ao ter falado neste incidente, fi-lo, evidentemente, em meu nome pessoal.

Nem então deleguei em V. Exa. para aplicar as sanções necessárias para o caso.

Vi depois que em nome dos vários agrupamentos políticos os respectivos -representantes delegaram em V. Exa. a solução do caso, mas posteriormente fazem declarações no sentido do dizer se estavam ou não satisfeitos com as explicações dadas.

Mas só independentemente disto há que constatar uma verdade. É que todos delegaram em V. Exa. A minoria nacionalista não condicionou a sua delegação, nem V. Exa. a aceitaria nesses termos. Delega-gamos todos em V. Exa.; no emtanto, todos manifestámos a nossa opinião.

O orador não reviu.

O Sr. João Luís Ricardo: — Sr. Presidente: fui eu a primeira pessoa que re-velou quanto ferido se sentia com a frase do Sr. Cancela do Abreu, saindo imediatamente do meu lugar para me aproximar de S. Exa. Êste acto não foi irreflectido. Fiquei, porém, inibido de prosseguir na minha atitude, visto que atrás de mim foram outros Srs. Deputados. Eu, que

por ser republicano, por ter sido já uma vez Ministro e ser membro do Parlamento, me sentia directamente visado pelas palavras do Sr. Cancela de Abreu, aguardava a intervenção, única legítima, de V. Exa. para obrigar aquele Sr. Deputado a retirar a sua frase.

Não querendo, porém, S. Exa. retirá-la, só havia uma cousa a fazer: ficarmos nós nesta sala e sair o Sr. Cancela de Abreu.

Ouvi as palavras do Sr. Cunha Leal, que sendo, como eu, um impulsivo, tem, no emtanto, em determinados momentos, o domínio dos seus nervos, e, assim, pôde serenamente pôr o problema em equação.

Aquilo que ouvimos da boca do Sr. Cancela de Abreu é a conseqüência lógica do desbragamento da linguagem de nós todos, republicanos.

Somos nós que não temos sabido respeitar-nos uns aos outros; somos nós que não temos sabido dignificar a República. Sofremos-lhe as conseqüências, e agora o que temos a fazer? Expulsar o Sr. Cancela de Abreu? Mas eu já ouvi dizer que não havia paralelo entre as injúrias lançadas pelo Sr. Cancela de Abreu contra o regime e contra os seus homens com as frases proferidas pelos republicanos.

Se não pode haver paralelo, e se fazemos sair a bem ou pela fôrça das armas um Deputado da monarquia, estabelecemos um paralelo com o que se fez no tempo da monarquia, expulsando desta sala os Deputados republicanos. Êsses foram expulsos por uma atitude nobre e alevantada, e o Sr. Cancela de Abreu seria expulso, não por ter tomado uma atitude de defesa da sua causa, mas simplesmente por ter proferido uma frase, que afirmou depois não ofender os homens da República, não ofender a República, não ofender o Parlamento, nem o Poder Executivo.

Nestas circunstâncias, eu só encontro uma solução: é que V. Exa. e a Câmara, è eu formulo um requerimento nesse sentido, não considerem como proferida a frase do Sr. Cancela de Abreu nesta sala, e não consintam que ela seja escrita na acta.

Tenho dito.

O orador não reviu.