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8 Diário da Câmara dos Deputados

O Orador: — Chegou S. Exa. a afirmar que o Govêrno era uma agência de negócios.

Seria conveniente que S. Exa. dissesse se há qualquer razão de ordem moral que me obrigue a dar explicações.

Até agora S. Exa. ainda, não o disse.

O Sr. Francisco Cruz (interrompendo): — Tenho, porque isso representa uma extorsão violenta.

O Orador: — Continua S. Exa. com as suas palavras violentas, que são apenas palavras, emquanto não demonstrar que tem outras razões.

O Sr. Francisco Cruz foi violento, extraordinariamente violento, no primeiro dia em que aqui se ocupou do assunto, e voltou a sê-lo segunda, terceira e quarta vez, queixando-se amargamente da Câmara por ela se negar a reconhecer a inconstitucionalidade do decreto por mim publicado como Ministro do Comércio.

S. Exa. ameaçou reduzir a pó todas as pessoas que não pensassem como êle, e foi até o ponto de fazer a injustiça de supor que, tendo eu voz aqui dentro desta casa do Parlamento, seria capaz de o atacar com quaisquer palavras desprimorosas.

Eu nunca vou para os jornais tomar a defesa ou fazer o ataque de quaisquer questões, e muito menos de quaisquer pessoas;

Eu dirijo, efectivamente, um jornal, mas S. Exa. sabe, como o sabe toda a gente, que, durante o tempo que fui Ministro do Comércio, eu não escrevi nesse jornal uma única palavra. Essa justiça mereço e essa justiça exijo que ma façam. De resto, a Pátria não tratou a questão de modo que pudesse atingir S. Exa. moralmente, ao contrário do que S. Exa. tinha feito. Nesse jornal, e em palavras escritas por um velho republicano, prestou-se inteira justiça às qualidades morais do Sr. Francisco Cruz. S. Exa. não tinha, pois, o direito de trazer para aqui esta questão que teria sido dirimida lá fora, com muito mais vantagens.

O Sr. Francisco Cruz: — Essa agora! Então não era aqui que eu tinha de tratar uma questão, cuja inconstitucionalidade é manifesta!?

O Orador: — Se eu quisesse considerar a questão nestes termos, teria de acusar S. Exa. de toda a campanha que se tem feito nos jornais contra mim.

Mas eu sou incapaz de o fazer, de o atacar noutros pontos, que não seja nos que correspondem às afirmações por S. Exa. feitas.

Mas vamos à questão.

Não basta a minha qualidade de Ministro moribundo para evitar que S. Exa. me dirigisse as suas apóstrofes violentas e injustas.

Eu sou, felizmente, uma pessoa que, mesmo doente, não perde o sangue frio e o bom humor. Sou uma pessoa acostumada a admirar os que, através de tudo, não perdem a sua inquebrantável serenidade.

Lembro-me a propósito dum grande humorista, o abade Jazente, quando um dia o foram visitar ao seu leito de moribundo e lhe levaram um Cristo que era duma escultura rudimentar.

Então êle não perdeu o ensejo de fazer uma quadra alegre. Quando reparou que êsse Cristo tinha os olhos ramelosos, comparou-os com os olhos duns pequenos que costumavam freqüentar a sua casa.

Como o abade Jazente, eu podia responder ao Sr. Francisco Cruz, porque S. Exa. foi efectivamente violento sem necessidade. A Câmara o reconheceu já, assim como a sem-razão das suas palavras.

Não haveria ninguém capaz de afirmar e de sustentar que o meu decreto é inconstitucional.

Mas se eu não podia responder como Ministro moribundo, agora tenho de o fazer como Ministro falecido e ressuscitado.

Tratasse duma interpelação póstuma.

Quando cheguei ao Ministério do Comércio, o administrador geral das estradas chamou a minha atenção para a forma de resolver a questão das pontes, não só de Abrantes, como disse o Sr. Francisco Cruz, mas também a de Santarém.

O Sr. Francisco Cruz: — Eu falei também na ponte de Santarém.

Apelo para a Câmara, e ela que veja quem fala verdade.

O Orador: — O apêlo é escusado.

Sr. Presidente: o problema é duma