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10 Diário da Câmara dos Deputados

Eu não vi que aqui se produzissem quaisquer ataques violentos senão ao Ministro das Finanças.

Se havia uma má composição no gabinete, porque é que o Parlamento assistiu impassível ao desenrolar dos acontecimentos, em vez de condenar a obra daqueles Ministros que, em sua opinião, não tinham sabido cumprir o seu dever?

Conjugando as duas moções, uma cousa se conclui: que os homens que tinham levado o Sr. Álvaro de Castro ao Poder, para ferirem o Partido Nacionalista, não queriam, uma vez terminada a tarefa de S. Exa., pô-lo fora, sem lhe passar um atestado de bom comportamento. E assim verifica-se que a maioria obtida para a votação da moção do Sr. Vitorino Guimarães foi constituída por alguns elementos que reprovaram a política financeira do Govêrno anterior. Votou o Sr. Portugal Durão, votou o Sr. Vasco Borges.

Eu pregunto agora a V. Exas. se desta simples circunstância que aponto alguém
tem o direito de tirar da moção do Sr. Vitorino Guimarães a ilação de que o
Parlamento considerava como boa a política financeira seguida pelo Govêrno do
Sr. Álvaro de Castro.

Isto não seria lógico, e o próprio Presidente do Ministério anterior, num momento de sinceridade, concordou que era verdadeiro tudo quanto eu aqui dissera. Nem necessário se tornava que o Sr. Álvaro de Castro afirmasse que não esquecia a sua carta e nela dizia o que sentia e sente ainda quanto à actual situação política.

A carta de S. Exa. não admite subterfúgios.

Pois se é S. Exa. que o afirma ao Sr. Presidente da República e se a própria circunstância do apresentante da moção que foi aprovada, ser o Sr. Vitorino Guimarães, que é um homem de honra, incapaz de negar as suas afirmações, como querem que eu não afirme que antes do Sr. Rodrigues Gaspar constituir gabinete fora reprovada a política financeira do Govêrno anterior?

E sendo assim, como é que o Sr. Rodrigues Gaspar vem dizer ao Parlamento que estava na disposição de ser o continuador servil da política do Sr. Álvaro de Castro?

Ainda me recordo da profunda hostilidade que separou em tempos o Sr. Rodrigues Gaspar do Sr. Álvaro de Castro.

Recordo-me duma série de factos que só não são estranhos por se terem passado dentro do ambiente acanhado da política portuguesa. Recordo-me da interpelação feita pelo Sr. Carlos de Vasconcelos ao Sr. Ministro das Colónias, Rodrigues Gaspar, a propósito do governador da Guiné, Sr. Velez Caroço, e que êsse Sr. Ministro procurou responder ao Sr. Carlos de Vasconcelos dum modo triunfante.

Recordo-me ainda que mais tarde pelo partido a que pertencia e pelo Govêrno a que tive a honra de pertencer, foi proposto para substituir o Sr. Caroço, o Sr. Carlos de Vasconcelos, e recordo-me de que a maioria democrática no Senado rejeitou o governador proposto, fazendo assim uma injúria a um homem que indiscutivelmente, merece toda a nossa consideração. Mais tarde o Sr. Carlos de Vasconcelos desapareceu de governador da Guiné e reapareceu o Sr. Caroço.

E, nesta hora, eu julgo que, assim como o Sr. Álvaro de Castro teve de engolir o «caroço» do governador da Guino, S. Exa. se está vingando, fazendo engolir a V. Exa. o caroço duma política que o Parlamento em pêso tinha condenado.

Emfim... a história é a grande mestra da vida, e nós vamo-nos contentando com as suas lições, aprendendo de vez em quando qualquer cousa que muito proveitosa nos pode ser.

A solução dada a esta crise política é tudo quanto há de mais ilógico. Deita-se abaixo um homem por representar uma política e ergue-se um outro que vem representar a política, condenada na véspera!

Se houvesse um pouco de senso no desenrolar dos acontecimentos políticos, certamente se teria seguido um caminho bem diverso.

Eu estou a ver o aspecto desolado com que o Sr. Portugal Durão nos aparecerá, quando S. Exa. se vir na contingência de ter de apoiar um Govêrno cuja política êle tinha condenado como má...

Depois de tam péssimos resultados, o Sr. Álvaro de Castro justificou a solução da crise, fazendo a apologia da sua política financeira.