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Sessão de 15 de Julho de 1924 19

cursos, das reservas prata, das reservas ouro, de tudo, emfim, que leve a garantir essa convertibilidade.

Mas — que isso fique bem assente — só depois de garantida a estabilização.

Eu pregunto se a política do Sr. Álvaro de Castro, alienando, sem êste único objectivo defensável, as já parcas reservas que possuíamos e dadas as poucas probabilidades da realização de um empréstimo, é ou não a ruína do nosso crédito.

Apoiados.

Ainda ontem, percorrendo as velharias do Diário de Notícias, eu li a notícia de que haviam chegado a Lisboa 100:000 libras esterlinas, destinadas a aumentar o fundo de reserva do Estado.

Sou pouco dado ao pranto, mas uma tal notícia, depois do que se tem feito nestes últimos tempos, não podia deixar de me comover profundamente.

Não foram lágrimas de crocodilo aquelas que porventura foram choradas ao ver partir para o estrangeiro os nossos últimos recursos, que iam ser esbanjados, não para a realização duma política definida, mas para alimentar a existência de cousas inúteis, despesas loucas, a continuação, emfim, do regabofe nacional.

O Sr. Álvaro de Castro tem a sua idea; eu tenho a minha. Por isso S. Exa. entende que a alguns dias de um empréstimo lançado com autorização da Câmara, não está mal rasgar os compromissos tomados por essa própria Câmara, mas eu entendo que S. Exa. andou muito mal, que mal nos colocou a todos, principalmente os membros da maioria que os votaram. S. Exa. diz que ninguém chorou lágrimas sôbre a desgraça dos portadores dos títulos de 3 por cento.

É certo; como ninguém chora lágrimas sôbre a desgraça dos portadores da nota.

Imaginem V. Exas. que algumas pessoas conseguem acumular algumas economias e as transformam em notas, confiando no seu valor.

Essas pessoas, dada a desvalorização dessas notas, vêem as suas economias reduzidíssimas.

Por que choramos uns e não choramos os outros?

Porque no caso das notas, tendo sido lenta e demorada a sua desvalorização, tendo-se os seus portadores habituado a essa desvalorização, sempre na esperança de que ela não fôsse até o ponto em que foi, êles se aclimataram à desgraça, ao passo que, no caso do empréstimo de 6 1/2 por cento e da dívida externa, foi de um momento para o outro que os portadores dêsses títulos viram lesados os seus interêsses, com uma redução que nada fazia prever.

Eu ainda me lembro dos prospectos que se afixaram pelas ruas de Lisboa, convidando o povo a cobrir o empréstimo.

Quem podia supor que, passados dois ou três meses, o Estado iria faltar aos seus compromissos!

Por êste processo costumam ser roubados os saloios quando chegam ao Terreiro do Paço.

Isto chama-se, em linguagem popular, o «conto do vigário».

Também eu não quero alongar mais este debate. As posições de todos nós estão marcadas. O Sr. Álvaro de Castro está muito contente consigo mesmo; nós estamos muito descontentes.

Mas, evidentemente, se nós estivéssemos tam contentes como o Sr. Álvaro de Castro, éramos capazes de ser muitos dos seus correligionários democráticos.

Nós sentimos as necessidades do país exactamente ao invés da forma por que as sente o Sr. Álvaro de Castro.

S. Exa., contudo, fica com as glórias da situação do país, com as glórias da desvalorização da moeda.

Não nos peçam, porém, a nós as contas de tais factos; não nos digam que não votámos impostos suficientes.

A obra de retardação do Parlamento tem sido providencial, porque é dificílimo adaptar o contribuinte aos esfôrços demasiados, a deixar de pagar um para passar a pagar vinte.

Houve, no emtanto, uma obra muito grande que se deve pôr em destaque, e essa foi a do Sr. director geral das contribuições e impostos, que, fazendo cobrar aquilo que precipitadamente havíamos votado, fez arrecadar para o país algumas centenas de milhares de contos.

Nós encaramos assim a situação. Somos, pelo menos, tam amigo do nosso país como os melhores. Desejamos a ressurreição da Pátria e temos fé nos nossos destinos, acreditando que, apesar da pé-