O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

22 Diário da Câmara dos Deputados

O Sr. .Viriato da Fonseca: — Comemora-se hoje o glorioso dia que foi aquele em que os portugueses em Aljubarrota se bateram contra os hespanhóis em prol da sua independência, da sua autonomia.

Na história pátria dificilmente se encontrará uma página que se iguale ao brilhantismo desta.

Apoiados.

Eu, que vivi alguns anos naquela região, comandando os grupos de artilharia em Alcobaça, quando passava pelos campos de Aljubarrota, para ir visitar o Convento da Batalha — que comemora êsse grande feito da Pátria Portuguesa — sentia-me extasiado, sentia-me maravilhado e como que arrebatado para regiões estranhas e épocas longínquas, ao contemplar êsses campos onde se feria tam ingente prélio e êsse maravilhoso monumento que é a consagração dos heróis que ali se bateram.

Será preciso ter a eloqüência de Demóstenes, a sabedoria de Humboldt, a sciência técnica de um dêsses grandes generais — e não cito o nome de qualquer deles, tantos têm sido na História — ter, emfim, condições qualidades e sciência raras, para poder descrever as sensações que me assoberbavam ao passar por aqueles campos gloriosos, e ao contemplar aquele maravilhoso monumento, que é o Convento da Batalha.

Naqueles campos e em frente dêsse grandioso monumento não há ninguém que se não sinta maravilhado, que não sinta o êxtasis da admiração, que se não sinta grande, por pertencer à Pátria Portuguesa.

Apoiados.

Ao pensar na grandeza, na enormidade dos feitos portugueses, traduzidos tam brilhantemente pelo rendilhado artístico dessa fábrica de pedra, compreendi que êsses feitos deviam ser de ama excepcional grandeza, para assim iluminar, o génio artístico,a inteligência invulgar dos que construíram aquele grandioso monumento.

Senti-me pequeno, e senti-me grande. Pequeno perante a monumental grandeza e grande por pertencer à Pátria Portuguesa.

Apoiados.

Vozes: — Muito bem.

O Orador: — Lembremo-nos que foi ali, naqueles campos, que a Ala dos Namorados, impulsionada pelo valoroso condestável Nun'Álvares, produziu o arranco supremo em defesa da Pátria, quando se defrontou com as hostes castelhanas que vinham excelentemente armadas e municiadas, trazendo até, cousa desconhecida entre nós, as célebres peças de artilharia denominadas «trons».

Na Escola Militar, que eu freqüentei, foi-me dado estudar essa artilharia uma das mais antigas do mundo, não falando nos antigos pedreiros, nas colubrinas, arbaletas e outras.

Com os trons julgava o exército espanhol que vinha como senhor apavorar a hoste portuguesa e tomar conta disto sem mais esfôrço. E é de notar que os castelhanos combatiam na proporção de dez contra dois do nosso lado.

Mas, como os homens se não medem aos palmos e como o medo não é a característica da gente portuguesa, a valentia e a heroicidade da hoste portuguesa evidenciou-se brilhantemente nos planos de Aljubarrota, heroicidade e valentia que um pouco mais tarde se haviam de demonstrar exuberantemente, quando mostraram ao mundo de quanto eram capazes, conquistando a Terra de um a outro lado do hemisfério.

Nessa memorável batalha de tal maneira a Serra dos Candeeiros se encheu de fugitivos espanhóis, que foram parar até Santarém, não sabendo para onde se dirigir, que essa debandada bem demonstra a heroicidade dos portugueses.

Nessa fuga desordenada ia à frente o rei de Castela, a cavalo numa mula, desorientado, desanimado, verdadeiramente vencido! Tal foi o horror e medo que se apoderou dos hespanhóis, perante o espantoso esfôrço dos portugueses!

E tudo isto está traduzido naquelas filigranas preciosas, naqueles recortes finíssimos, naquelas arcarias celestiais que constituem o Convento da Batalha.

Passados seus séculos, aquele artístico rendilhado de cantaria e, sobretudo, aqueles estupendas capelas imperfeitas, onde tudo é estranho, onde tudo é maravilha, harmonia e beleza, onde a arte se cumulou de dons preciosos, que a mente humana quási não apreende, ali, passados seis séculos, tudo canta, tudo grita, a psicologia heróica e aventureira dos portugueses, desde a fundação do reino de