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Sessão de 14 e 15 de Agosto de 1924 65

zes, que teria de preparar a elaboração do regime de harmonia com as aspirações a que já me referi.

E se isto é assim, se de facto há na vida social transformações milagrosas, se de facto a simples implantação da República não pode, de uma hora para a outra, produzir a afirmação, e pode, quando muito, produzir as afirmações indispensáveis para num dado momento se poderem arranjar os valores necessários, a que vem a propósito essa teimosia e insistente atitude do Sr. Ferreira da Rocha, procurando atribuir todas as maleficências ao Partido Republicano Português?

Repito o que há pouco disse: não somos um produto isolado no meio em que vivemos; não somos uma formação esporádica e extemporânea: — somos, pelo contrário, compostos pelos elementos de vida desta mesma sociedade como os outros partidos e categorias de actividade política e não política.

Creio que a atitude dos homens de espírito culto, como o Sr. Ferreira da Rocha, não pode ser essa atitude recriminativa nem tampouco aquela que afluie por por vezes nas suas considerações.

Em 1911, em artigos e conferências, tive ocasião de defender o ponto de vista que acabo de expor, e que pode reduzir-se nestas breves considerações. A transformação do regime não era o último termo de uma evolução: — era, pelo contrário, o princípio dessa evolução; era, por assim dizer, a criação da primeira condição indispensável para que essa evolução deixasse de ser verbal, visto que a monarquia em muitos séculos nos havia preparado esta crise em que nos debatemos.

Admira-me que uma pessoa com as faculdades mentais do Sr. Ferreira da Rocha, queira comparar catorze anos de uma sociedade com catorze anos de uma pessoa.

É agora que é difícil ser republicano, porque é agora que o nosso republicanismo deixa de ser sentimental para ser de defesa.

Apoiados.

É por isso, Sr. Presidente, que eu não reputo maus todos os partidos como o Sr. Ferreira da Rocha, e não encontro incitamentos para me afastar de um pôsto que é agora mais doloroso do que nunca.

Reduzir a actividade política em Portugal, como há pouco fez o Sr. Ferreira da Rocha, a uma maioria viciosa, harmonizando-se num certo número de comodidades e de benefícios, é um êrro que êsse Sr. Deputado praticou. Menos do que ninguém S. Exa. pode esquecer ou ignorar que aqui, nestas bancadas, se sentam dezenas de homens que da República nada têm recebido e tudo lhe têm dado (Apoiados da esquerda}, sacrificando até as suas comodidades.

Para que sermos nós próprios, os principais desacreditadores, aqueles que fazem crítica exagerada e injusta?!

Para que serem aqueles que tem um renome intelectual, político e parlamentar, os que desprestigiem êsse renome num exagero de crítica?!

Sr. Presidente: não quero prolongar por mais tempo esta introdução de carácter político, a que me vi forçado pelas obrigatórias políticas do Sr. Ferreira da Rocha.

Repito, Sr. Presidente: a circunstância de a catorze anos da implantação do regime nos encontrarmos na situação em que nos encontramos, deriva muito mais de causas externas do que propriamente das deliberações dos dirigentes republicanos de todas as categorias e de todos os partidos.

As fôrças políticas dos outros países não são constituídas de massa diferente dos portugueses.

Pelo contrário, são formações do meio.

Como o Sr. Ginestal Machado, eu considero inteiramente indispensável que os políticos sejam claros, precisos e sinceros.

S. Exa. resumiu as considerações que fez assim: que o político não deve exagerar os defeitos dos outros, mas deve também ser sempre preciso e claro nas suas apreciações.

Mas, para assim se fazer, não necessitamos de ser injustos.

Pelo contrário, repito: para se realizar isto, necessitamos de ser justos e dar a César o que é de César, não estando continuamente a deminuir-nos.

Estranhou-se que a apresentação dessa proposta se fizesse nos termos em que foi feita; mas, oh! Sr. Presidente, se há propostas que não podem ser consideradas uma surpresa, que não podem apanhar