O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Sessão de 14 e 15 de Agosto de 1924 67

entre os chefes de família uma idea de segurança e tranqüilidade no futuro dos filhos, começando em toda a parte do mundo os homens a perceber que é melhor deixar os filhos preparados para a vida, preparados para si próprios se dirigirem do que deixar-lhes os cofres a abarrotar de libras ou as gavetas cheias de títulos de registos de propriedades.

Paralelamente a esta evolução, veio-se fazendo na sociedade a consciência de que a transmissão dos bens da família tinha de deixar de ser, no mundo culto, uma posse individual, e afirmando-se o direito da sociedade a uma parte dêsses bens.

Aqui está como, a pouco e pouco, da própria experiência dos factos se alevantam doutrinas democráticas defendendo a absoluta liberdade de testar e a participação da colectividade nos resultados dos esfôrços individuais, que só foram profícuos e úteis porque a colectividade auxiliou essa proficuidade e utilidade.

Um homem, senhor de grossos cabedais, pôde organizar uma oficina com todas as condições de conforto. Com o esfôrço e a actividade de milhares de pessoas pode aumentar enormemente essa fortuna. Quando ao fim dalguns anos ia gozar o descanso não pôde esquecer-se dessa legião de trabalhadores que o tinham auxiliado a obter tam grossos cabedais.

Sr. Presidente: quando a fortuna deixa de ser um meio para ser um fim, torna--se inimiga da sociedade e um dos maiores perigos sociais, porque se converte num obstáculo ao livre desenvolvimento da vitalidade humana; e como êsse desenvolvimento é uma cousa natural que tem de se fazer, sucede que há um momento de concentração em que se manifesta a energia humana, dando-se o mesmo fenómeno que se dá nos cursos de água, em que êstes quando encontram algum obstáculo se juntam em volume até ganhar a fôrça de resistência necessária para obrigar o obstáculo a ceder.

E então, Sr. Presidente, a riqueza desviada da sua função fisiológica transforma-se inevitavelmente no maior inimigo do equilíbrio social, numa causa de perturbações.

E vós, que teimais em manter o estado social antigo e pretendeis a permanência de certos critérios e certas regras, é que sois os anarquistas, porque sois os provocadores de fatalidades inevitáveis!

Eis a razão por que nós outros radicais, os que temos dentro do ponto de vista social uma atitude contrária aos revolucionários, desejamos que se siga uma orientação diferente da nossa; uma orientação mais justa, mais alta e mais humana, porque é mais consentânea com a realidade, visto que é experimental. 0Aqui tem V. Exa. como, pelo poder de mobilidade da direcção de um magnífico povo, se foi fazendo, sem sangue, uma transformação que, segundo o nosso entender, é bastante profunda.

Aqui tem V. Exa. e a Câmara como, num rápido e resumido bosquejo, eu mostrei a razão por que a Inglaterra adoptou essa atitude.

Sr. Presidente: há quem sustente que uma grande transformação se operou à superfície da terra, nos últimos dois séculos, modificando as condições da actividade económica.

Muitos tratadistas têm versado esta questão; e entre êles citarei Guiraut.

Afirma Guiraut que a crise que actualmente atravessa o mundo inteiro é resultado dessa desaptidão entre as condições da vida social e as categorias de direcção.

Isto explica como as correntes do mal-estar que invadem todos os povos, os avançados ou recuados, os progressivos ou cristalizados, têm aumentado, vindo reforçar a afirmação de que os nossos sistemas escolares têm de ser os elaborados das condições da vida social.

Sr. Presidente: isto demonstra ainda a necessidade absoluta de se reformar o nosso sistema de ensino, adaptando-o ao desenvolvimento da nossa raça, para assim impedir o Sr. Ferreira da Rocha de formular as acusações que há pouco fez.

Sr. Presidente: afastado do desenvolvimento da minha idea, por esta pequena divagação, eu creio ter provado à Câmara que a atitude radical é a única capaz de realizar a obra de direcção necessária e indispensável, para fazer desta sociedade, dêste povo, aquilo que elo deve ser.

Apoiados.

Por conseqüência, todos aqueles que, como nós vamos a militar e batalhar contra todas as reacções, e repare V. Exa.,