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26 Diário da Câmara dos Deputados

O Sr. Carlos de Vasconcelos (interrompendo): —Aproximadamente, a dívida flutuante de Angola andará por essa importância.

O Orador: — Sr. Presidente: é curioso constatar que o protesto das letras de Angola, que o Govêrno deixou arrastar desde há meses, coincide precisamente com a campanha internacional que se está fazendo à volta das nossas colónias e sobretudo de Angola.

Ninguém desconhece que neste momento se debate lá fora na imprensa de vários países, aquilo que foi o trabalho de muitos anos, acerca das esferas de influência nas províncias portuguesas, principalmente em Angola e Moçambique.

É curioso notar também que essa campanha coincidiu com o momento em que o crédito de Angola foi abalado.

Para terminar, eu quero ainda dizer que em minha opinião, não foi um desperdício que se fez na compra de material, à sombra do crédito dos 3 milhões de libras, porquanto êle se tornava indispensável para o desenvolvimento económico da província e porquanto, duma maneira geral, êle veio contribuir para que a situação melhorasse. A província é rica. Atravessa neste momento uma crise que é sobretudo bancária.

O Banco Nacional Ultramarino, Sr. Presidente, e o Banco Colonial têm arrastado há meses uma controvérsia com a província de Angola, o que na verdade, muito a tem prejudicado.

É preciso não deixar de olhar para êste lado da questão.

As colónias mais tarde ou mais cedo terão receitas para os seus encargos, e o Estado também terá de ajudar as colónias para que saiam do estado financeiro difícil em que agora se encontram e para que melhorem o seu crédito no estrangeiro e na própria metrópole.

Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. Carvalho da Silva: — Sr. Presidente: das sessões que se podem chamar edificantes para a República, não conheço nenhuma como esta de hoje.

Depois dos casos dos Transportes Marítimos, temos mais um escândalo, conforme se vê das declarações do Sr. Ministro das Colónias e de alguns Srs. Deputados.

Há dias foi publicado nos jornais um documento do Conselho Superior Judiciário relativo aos Transportes Marítimos do Estado, em que se via que havia nada menos de cem processos instaurados que nenhum seguimento tinham tido.

Nesta Câmara tenho ouvido afirmar que, se na República há escândalos, ela sabe castigá-los, mas o que é certo é que nesta questão de Angola, não só não castigou o responsável de tais escândalos, mas foi mais longe, pois que o nomearam embaixador para Londres.

Êsse criminoso, responsável por uma tal situação de Angola, está representando, para vergonha nossa, o nosso país, no próprio momento em que são protestadas as letras por culpa dele emitidas.

Sr. Presidente: como português, sinto-me envergonhado por não ver que o primeiro acto dêste Parlamento, ao retinir de novo, tenha sido propor a demissão imediata do Sr. Norton e tolere que êle continue representando o nosso país junto da corte inglesa, quando todos sabem que a sua obra produziu as conseqüências desastrosas que o Sr. Ministro das Finanças quere ocultar.

É edificante esta sessão. Ela demonstra bem a moral da República; ela demonstra bem quanto a República, sacrificando o nome da Pátria, sacrificando o crédito do país, procura antes, e acima de tudo, cobrir e premiar os homens que criminosamente aviltam a nação. E, como se não bastasse ter havido um Alto Comissário de Angola que se premiou fazendo-se nomear nosso embaixador em Londres, já hoje se ouviu nesta Câmara dizer, sem que o Sr. Ministro das Colónias o negasse, que o Sr. Alto Comissário de Moçambique, com a sua comitiva, saindo da metrópole há dois meses, já gastou 11:000 libras na viagem, o que representa mais de 1:500 contos.

Eu pregunto se há escândalo mais tremendo e completo do que num pais arrumado e em que se exigem aos portugueses todos os sacrifícios, se permitir que um Alto Comissário continue a gastar desta forma por que tem gasto, desembolsando os cofres do Estado de mais de 1:500 contos.

Mas, para que o país saiba, como se