O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

46 Diário da Câmara dos Deputados

nome, a noção exacta, a noção precisa, do ridículo que há nos pulos dos frangos que pretendem voar.

Ora, Sr. Presidente, o que a opinião pública diz lá fora é que não compreende, como eu também não compreendo, à face do que se está passando, para que sorvia a convocação extraordinária do Congresso, a trinta dias da data constitucional da sua reabertura; é que não compreende agora a utilidade dêste debate, que, a despropósito das letras de Angola, enveredou por um caminho marcadamente político.

O que a opinião pública diz lá fora, a opinião do povo que há dez longos anos luta com coragem e provado bom senso contra a carestia sempre crescente da vida, que todos os dias representada para êle uma ameaça de miséria e de morte, é que tem confiança neste Govêrno, que já lhe deixou antever a possibilidade de melhores dias, mais desafogados, mais cheios de sol e de felicidade.

Sr. Presidente: os Governos, como os homens, não são inteiramente perfeitos. Têm bom e têm mau. Mas mal andaria um julgador que quisesse avaliar do carácter dum indivíduo vendo-o apenas através dos seus erros o dos seus vícios.

Evidentemente o Govêrno tem errado. Não lhe poupemos censuras; mas entremos em linha de conta com todas as suas virtudes.

Eu próprio tenho fundas razões de queixa do Govêrno. Talvez não haja aqui dentro outro com tanta razão para se queixar.

Se o, Govêrno se mantiver, amanhã ou depois o seu Presidente tem de me ouvir.

Mas eu sei, felizmente, pôr muito acima dos assuntos que particularmente me dizem respeito o bem geral da Nação. E quanto a êle, se consulto a minha consciência, a minha consciência diz-me que o Govêrno, duma maneira geral, tem procedido bem, servindo com honestidade o país.

E isto é o que importa. Como representante da Nação o afirmo, certo de que avanço uma indiscutível verdade.

Pois não manteve o Govêrno, durante o interregno parlamentar, a ordem pública, que tantos, tam teimosamente, quiseram perturbar?

Acaso fez mau uso dalguma das autorizações que lhe concedemos? Que eu saiba, não. E tem uma obra evidente: a obra da melhoria cambial e conseqüente melhoria das condições de vida. Essa ninguém lha pode negar.

Quantas vezes não ouvi afirmar, pela voz das oposições, que a divisa dos câmbios era sempre o mais seguro indicador da boa ou má administração do Estado!

Quantas vezos não, ouvi censurar os antecessores do Sr. Daniel Rodrigues, que não podiam ou não sabiam sustar a marcha sempre crescente do custo da libra!

E agora não serve um Govêrno, quando a libra desce e o escudo sobe?

Confesso, Sr. Presidente, que eu, como a opinião pública, também não compreendo as subtilezas dêste critério.

Eu sei, Sr. Presidente, eu sei que não só à obra moralizadora e honesta dêste Govêrno se deve a melhoria cambial que se constata.

Eu sei que é também, e em muito, obra do Parlamento, que soube a tempo votar as medidas indispensáveis para tal fim.

Sei que a actual melhoria se deve, remotamente, ao factor confiança que logo inspirou a estabilidade e a obra de ordem e disciplina do Ministério a que presidiu o Sr. António Maria da Silva, ilustre leader dêste lado da Câmara. Estabilidade e ordem conseguidas à custa de muito tacto político e do muito bom senso prático, a que tantos chamam habilidades e equilíbrios, ignorando, ou fingindo ignorar, as suas conveniências, as suas vantagens.

Sei que a melhoria cambial se deve, por último, à obra segura, decidida, heróica mesmo, quanto a compressão de despesas, do Ministério a que presidiu o ilustre administrador que é o Sr. Álvaro de Castro.

Sei tudo isto, e não me custa fazer justiça a todos.

Mas, Sr. Presidente, acaso este Govêrno tomou orientação diversa? Falseou porventura êsse espírito de economias? Malbaratou os dinheiros entregues á sua guarda? Desviou-se do caminho de ressurgimento traçado? Não, não e não!

E é agora, Sr. Presidente, entre os primeiros murmúrios do milagre, quando toda a gente começa a acreditar, que re-