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24 Diário da Câmara dos Deputados

Sr. Presidente: somos pessoas conscientes do que valemos e não receamos ameaças e muito menos truculências. O Sr. Ministro das Finanças já declarou que além de ser Ministro era director das cadeias, e com esta frase prometeu meter tudo na prisão.

Como sou amigo pessoal de S. Exa., permito-me dizer-lhe que pode meter na cadeia todos os'banqueiros, mas o que não consegue prender é o câmbio.

O Sr. Feliz Barreira, (em àparte): — Nem os políticos que têm administrado mal a República.

O Orador: — Nesta hora está muita gente aterrada; nesta hora há muita pessoa que receia novos impostos, novos tributos, e até os próprios banqueiros estão aterrados; mas eu daqui lhes digo: não se assustem, não se arreceiem, não tenham medo, continuem tranqüilos.

Sr. Presidente: o verão passado assisti, no Teatro de S. Luís, a um espectáculo denominado os «Anaglifes». Em que consistia êle?

Projectavam-se num écran figuras várias que cresciam, assumindo proporções gigantescas, e avançavam em direcção aos espectadores, como que ameaçando os e parecendo querer agredi-los.

Êstes, nas cadeiras e nos camarotes, aterrados, agachavam-se mas depois todo o receio se desvanecia, tudo passava, eram apenas inocentes sombras ... Sr. Presidente: permita-se-me que compare ò actual Govêrno aos «Anaglifes». Não fará nada, não passará duma sombra...

Termino, tendo a honra de cumprimentar o novo Gabinete.

O orador não reviu.

O Sr. Cunha Leal: — Sr. Presidente: começarei por cumprir um dever de cortesia a que de modo algum poderia faltar.

Começarei por cumprimentar o Sr. Presidente do Ministério e os seus colegas do Gabinete, com alguns dos quais eu tenho velhas relações de amizade.

Outros são meus conhecidos e com alguns deles não tenho espécie alguma de relações; conheço os apenas através dos actos da sua vida pública.

Cumprido êste dever, farei uma confissão. Confessar-se a gente é uma cousa que alivia a consciência, como dizem os católicos praticantes, e tem, além disso, a vantagem de nos ficarem conhecendo.

Devo confessar a V. Exas. que, aceitando a obrigação de falar, não fiz bem.

Não apoiado.

Eu ouvi o Sr. Vasco Borges e fiquei julgando que era o leader do Partido Nacionalista que falava.

O Sr. Vasco Borges falou com eloqüência, falou — eu, pelo menos, acredito-o — com sinceridade e falou, sobretudo, com verdade.

Apoiados.

Creio que uma das características da minha pobre eloqüência é a de, através de todos os erros de gramática e- de todas as contorsões de frase, falar sempre verdade, alto e bom som.

O Sr. Vasco Borges teve igualmente essa característica, nas declarações que há pouco fez. E de tal maneira que eu não sei se S. Exa. deseja que lhe seja conferido pelo meu partido o título de nacionalista honorário de primeira plana.

Risos.

Mas porque é que o Sr. Vasco Borges falou por forma que tam bem enquadrou as aspirações do meu partido? Ninguém que conheça o caracter do Sr. Vasco Borges pode fazer lhe a injustiça de supor que S. Exa., com a sua atitude, procurou apenas uma ponte de passagem para aderir ao Partido Nacionalista.

Risos.

Não. S. Exa. falou assim naturalmente arrastado pelo estado de espírito que presentemente parece dominar toda a Nação.

O Sr. Vasco Borges, antepondo-se no uso da palavra ao leader do Partido Nacionalista, teve ocasião de fazer afirmações a respeito do actual Govêrno que o País, decerto, por filha inteiramente. Algumas das suas frases são bem expressivas. S. Exa. afirmou cousas como esta: «que o Govêrno subia ao Poder para mera e vulgar satisfação de ambições pessoais».

Tanto talvez não me atrevesse eu a dizer porque, não tendo com os membros do Govêrno as relações de S. Exa., porventura não teria a franqueza de que usou o Sr. Vasco Borges que, além disso, melhor os conhece.