O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

22 Diário da Câmara dos Deputados

Não sendo assim, dá-se o desprestígio do Poder. Foi contra isso que eu protestei.

O Orador: — Sr. Presidente-, toda a gente entranhou que o Sr. Pedro Martins fôsse a figura escolhida para Ministro das Finanças do Govêrno actual.

Era S. Exa. a individualidade que estaria, com efeito, indicada para exercer neste Ministério as funções de Ministro das Finanças?

Sr. Presidente: a orientação avançada dum Govêrno — é quási lugar comum dizê-lo — tem de marcar-se principalmente no campo económico-financeiro. Basilar para êste Govêrno era o seu Ministro das Finanças, o seu programa, as suas ideas.

Então era o Sr. Pedro Martins o escolhido para executar o programa mínimo do congresso partidário, realizado no Pôrto?

Acho êste tam anormal que chego a duvidar da sinceridade dos propósitos do Govêrno.

Eu bem sei que neste momento está na pasta das Finanças um ilustre republicano, a quem presto as minhas mais sinceras homenagens, um velho republicano, ilustre por todas as suas qualidades de carácter e de inteligência; mas a verdade é que o Sr. Pestana Júnior, com as suas muitas ou poucas ideas, com as suas boas ou más ideas de Govêrno, só foi para a pasta das Finanças, digamos, como recurso esquerdista, com o aplauso do meu ilustre colega e indómito esquerdista, Sr. Sá Pereira.

Não o tinha nessa conta, assim como não conhecia como esquerdistas os Srs. João de Barros e João de Deus Ramos.

O Sr. Sá Pereira (interrompendo): — É porque V. Exa. não os conhece a todos.

O Orador: — Sr. Presidente: ao felicitar a pessoa do Sr. Sousa Júnior, velho republicano, figura prestigiosa e das mais altas qualidades, cujo brilho se impõe ao respeito de todos nós, devo dizer, em abono da verdade, que, tendo S. Exa. já sido Ministro da Instrução, o julgava reservado para mais altos serviços.

Sr. Presidente: detenho-me neste ponto do esquerdismo misturado do Govêrno, para mostrar à Câmara que há duas espécies de esquerdistas.

Há esquerdistas de orientação, esquerdistas de sinceridade, e também esquerdistas de artigo, esquerdistas reclamo, que apenas pretendem iludir a opinião pública, e mais nada.

Apoiados.

É preciso ter em conta que prometer é muito fácil; porém, cumprir ou realizar aquilo que se promete é por vezes impossível, o que faz por vezes revoltar todos aqueles que se deixaram iludir.

Apoiados.

Sr. Presidente: a nação tem o direito do exigir que a República lhe forneça Governos e políticos em condições de prestígio para a própria nação; mas uma tal política, como a que estamos vendo, nem pode prestigiar a República, nem interessar a nação, porque só tende a satisfazer ambições, porque o objectivo atingido consiste em distribuir a um o lugar de Presidente de Ministério, a outro uma pasta de Ministro, a outro um lugar de governador civil, e a alguns dar predomínios locais, de há muito ambicionados. Mas isto não serve a nação, não dignifica a República; é apenas uma política estéril e nociva.

Sr. Presidente: trágica será aquela hora em que êste Govêrno, depois de se ter apresentado à opinião pública, tenha de responder perante ela. Neste capítulo o actual Govêrno tem uma responsabilidade especial. Todos os que aqui estão, no fundo da sua consciência, têm a noção exacta do que se fez ao Govêrno do Sr. Rodrigues Gaspar.

O Sr. Carlos Pereira (em àparte): — E ao Govêrno do Sr. Álvaro de Castro.

O Orador: — O Sr. Rodrigues Gaspar precisa duma reparação maior do que a de simples desculpas após o desaire. Aquele homem há-de ter a reparação que merece; havemos de dar-lhe todos nós, e aqueles que o escorraçaram do Poder, e que nesta hora apoiam os escorraçadores.

Sr. Presidente: o Govêrno do Sr. Rodrigues Gaspar não caiu pelo que fez; caiu pelo que outros fizeram. Aproveitaram-se acintosamente contra êle factos que êle não praticou, unicamente com o