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Sessão de 27 de Novembro de 1924 23

fim de derrubar um homem que não procurava senão servir a República e dignificar o país.

Convocou-se o Parlamento para uma sessão extraordinária sem se conhecer o objectivo dessa convocação. E afinal, Sr. Presidente, para, após a queda do Gabinete Rodrigues G-aspar, adiarmos a sessão, porque o Govêrno hoje apenas se apresentou.

O Sr. Carlos Pereira (interrompendo): — V. Exa. dá-me licença? V. Exa. esqueceu-se de ler o decreto que convocou o Parlamento. O próprio Govêrno diz que a convocação visava à discussão orçamental.

O Orador: — Mas nenhum dos que clamaram por essa discussão ainda tratou dela nesta Câmara.

O que se trouxe como arma, como metralha para fuzilar o Govêrno, foi o acordo dos tabacos que não era da responsabilidade do Sr. Rodrigues Gaspar, mas sim do Sr. Álvaro de Castro.

O Sr. Carlos Pereira (em aparte): — Não apoiado! Não apoiado!...

O Orador: — V. Exa., com os seus não apoiados, não destrói esta afirmação, e nesta Câmara há quem possa confirmar as minhas palavras.

Quem assinou as bases do contrato é que tem a responsabilidade.

Mas, Sr. Presidente, foi depois o Govêrno atacado por virtude das letras de Angola, quando a responsabilidade não era dele. Quem não as pagou foi o Govêrno do Sr. Álvaro de Castro.

O Sr. Álvaro de Castro (em àparte): — Não é exacto.

O Orador: — Há nesta Câmara quem melhor conheça o assunto e que pode detalhadamente responder à observação de S. Exa.

Mas, Sr. Presidente, êste Govêrno formou-se mediante a prévia exibição do tal programa esquerdista que para muitos foi já uma decepção.

Ao fazer esta afirmação, eu quero protestar contra essa espécie de exclusivo, marca ou patente, que os homens, actualmente sentados nas cadeiras do Poder, pretendem reservar para si. Refiro-me à denominação de esquerdistas. Esquerdistas somos todos nós, são todos os republicanos.

O Sr. Júlio Gonçalves: — Os actos é que o afirmam.

Trocam-se àpartes.

O Orador: — Sr. Presidente: repetindo, devo dizer que esquerdistas são todos os republica aos. A República, infelizmente, não está ainda tam integrada na Nação que os republicanos deixem de formar à esquerda.

Em Monsanto é que se efectuou o combate das esquerdas com as direitas, e nas esquerdas formaram os republicanos de todos os matizes. Esquerdistas, portanto, somos todos nós.

O Sr. Sá Pereira (em àparte): — Há várias nuances.

O Orador: — O que se tornava necessário era aglutinar, era reunir esfôrços e dedicações em torno da República, e não dividir, desorientar ou mistificar.

O Sr. Feliz Barreira (em àparte): — Na verdade, é preciso não mistificar, O que se torna necessário é administrar.

O Orador: — Sr. Presidente: o Sr. Presidente do Ministério tem a alta e grave responsabilidade de ter trazido a êste Parlamento uma proposta de lei que visava a restabelecer a Lei da.Separação em toda a sua pureza.

Que interêsse tem manifestado S. Exa. por essa proposta?

Mas, Sr. Presidente, recordo-me ainda de palavras que foram proferidas em Coimbra a propósito da Universidade da mesma cidade.

Prometeu-se modificar aquele velho estabelecimento de ensino para o restabelecer de harmonia com normas-mais democráticas e republicanas. Fico esperando dêste logar essa obra de democratização do ensino que o Govêrno vai fazer.

Eu bem sei que o Sr. Presidente do Ministério nos prometeu mais do que o próprio Danton. S. Exa. propõe-se dar-nos o pão; a seguir dar-nos educação e no fim dar-nos a liberdade.