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Sessão de 27 de Novembro de 1924 21

Todavia, compreendo que se queira governar, que se aspire mesmo a governar por patriotismo, pelo desejo de contribuir para o bem comum, e mesmo pela con-tiança que haja ao êxito do estorço próprio.

Mas, Sr. Presidente, o que não compreendo, sobretudo na hora que passa, é que se pretenda governar apenas pela mera e vulgar satisfação de ambições pessoais.

Sr. Presidente: não duvido de que aos homens que compõem o actual Govêrno a todos anime o melhor patriotismo e as melhores intenções; todavia não reconheço nos homens e figuras que compõem o Govêrno àquelas mesmas qualidades precisas para inspirarem confiança ao país, nom a possibilidade de bem o servirem, nem até a mesma legitimidade para terem atingido os postos que alcançaram.

Pregunto: - Sem dúvida! é um Govêrno republicano?

Todavia penso que não é o Govêrno de que a nação e a República precisavam neste momento.

É também um Govêrno do bloco?

Sê-lo há, mas pregunto: de qual bloco?

Daquele que mais ou menos precariamente existiu para o Govêrno que foi presidido pelo Sr. Álvaro de Castro ou o que existe agora para o Govêrno do Sr. José Domingues dos Santos?

É um Govêrno saído daquele bloco que desapareceu na noite em que se derrubou o Govêrno do Sr. Rodrigues Gaspar ou antes um Govêrno que surgiu de outro bloco que- se formou nessa noite, constituído por aqueles que derrubaram o Govêrno transacto, pelo Partido Nacionalista, pelos católicos e pelos monárquicos?

Se surgiu dêste último bloco, verifico que o Govêrno está incompleto, porque, procurando entre as pessoas que só sentam nas cadeiras do Poder, vejo que faltam os Srs. Lino Neto, o Sr. Carvalho da Silva, o Sr...

O Sr. Carvalho da Silva (interrompendo): — Já não lhes chegam os correligionários.

Querem lá ver a gente...

O Orador: — O Sr. Carvalho da Silva mais possivelmente poderá ser correligionário daqueles com quem colaborou nessa noite a que aludi, do que de num.

Não está no Govêrno S. Exa., e não tenho que surpreender-me porque, com efeito, se trata de um Govêrno republicano e que por tal sinal se propõe finalmente realizar aquela política com que muitos republicanos sonharam, e que até hoje ainda não puderam ver, de um Govêrno que vai restabelecer a República naquelas bases puras da Democracia, de um Govêrno numa palavra acentuadamente esquerdista, com o apoio e a consagração do ilustre esquerdista que é o Sr. Sá Pereira.

Esquerdista!... Esquerdista...

Surge aqui a minha primeira dúvida...

O Govêrno devia estar formado de antemão.

Os homens que o desejaram, que o preconizaram, que desenvolveram toda a acção que o levou ao Poder, os homens que o compõem, era preciso tê-los encontrado antes, constituindo uma mesma aspiração, formando e defendendo um mesmo corpo de doutrinas e de princípios.

Mas, Sr. Presidente, o que vimos nós todos?

Vimos que o Sr. Pedro Martins, antigo Ministro de Portugal junto do Vaticano, fora convidado para Ministro das Finanças.

Foi o que os jornais disseram, e eu creio que seja verdade, pois de contrário o Sr. Presidente do Ministério teria o cuidado de opor o devido desmentido, o que não fez.

O Sr. Carlos Pereira: — O esquerdismo de V. Exa. é comer fígados de padre?

O Orador: - Conhece V. Exa. algum padre a quem eu tenha comido o fígado? Teria V. Exa. preparado com êle algum pic-nic A Fátima?

O Sr. Carlos Pereira: - Parece-me que V. Exa. toma por afirmação minha uma cousa que não ô verdade.

Eu não disse aquelas palavras que vieram no jornal A Época.

Entretanto, tenho o direito de não concordar com proibições que deminuam o Poder. Para se proibir é indispensável que se seja capaz do efectivar a proibição.