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18 Diário da Câmara dos Deputados

ou quatro, apenas, as pessoas que votaram em contrário; e êsses votos, Sr. Presidente, nasceram do facto de se não dizer apenas «bloco», mas «bloco das esquerdas».

Há pessoas que têm um medo terrível às palavras, um horror instintivo às esquerdas, aos canhotos...

O Sr. Nunes Loureiro: - Eu não tenho nenhum.

O Sr. António Dias: - Nem eu.

O Orador: — Sr. Presidente: vejo que há pessoas que se ferem, pessoas que procuram mostrar a sua coragem política o que aproveitam esta ocasião para afirmar-me que não têm medo. Estimo até que, entre elas, figure o meu querido correligionário Sr. António Dias, porque isso me leva à convicção de que as esquerdas não são valores de destruição e de que S. Exa., ingressado ainda' há pouco nas fileiras da República, não tem dúvida em avançar um pouco para as esquerdas.

Foi indicado para presidir ao actual Govêrno o Sr. José Domingues dos Santos. S. Exa. aceitou a incumbência e o Govêrno encontra-se presentemente constituído.

O ambicioso, como V. Exas. ouviram já proclamá-lo, é o homem que as massas populares do meu partido sucessivamente indicam para membro do seu directório; é o mesmo que no grupo parlamentar, selecção, escol da família republicana ou que pelo menos o devia ser, indica para seu leader. E não se diga que é a primeira vez que tal se dá; outros colegas, nossos correligionários, têm sido leaders e ainda hoje o é uma grande figura do meu partido, o Sr. António Maria da Silva.

O Sr. Carvalho da Silva: - Qual é o maior?...

Risos.

O Orador: — Não há maiores nem menores; e tanto assim é que se resolveu, aliás de harmonia com a boa técnica parlamentar, chamar-lhes tam somente «membros da junta parlamentar». Para o meu partido todos os membros dessa junta são iguais e todos merecem o nosso, respeito e dedicação.

Ponhamos, porém, de parte esta questão de bitola, visto que eu não estou disposto a satisfazer os apetites de quem quer que seja; e, nestas condições, vamos-continuar.

Constituído o Gabinete, seguiu-se a sua, apresentação ao Parlamento, tal qual s -deu com o Gabinete Rodrigues Gaspar. Tal qual não direi bem, porque o Ministério do Sr. Rodrigues Gaspar, não obstante o seu desejo de marinheiro que debate com os temporais e que denodadamente, os enfrenta, nasceu não no meio da fúria dos elementos mas no meio dum temporal imenso, nasceu — digamos a verdade — duma habilidade.

S. Exa. não o soube e ninguém lho disse.; mas digo-lhe eu, porque, escolar da República, de início me habituei a dizer a verdade aos homens.

O Govêrno do Sr. Rodrigues Gaspar singrou com melhor ou pior monção. Temos de confessar que o homem do leme é pessoa rija; e assim a nau lá foi navegando. Mas, um dia, a nau teve da sossobrar; e sossobrou nas mesmas águas em que já havia sossobrado o Govêrno do Sr. Álvaro de Castro. Foi o próprio bloco que o derrubou.

É o caso tam interessante é que quando o Sr. Álvaro de Castro caiu e esta Câmara revestiu o aspecto duma casa mortuária, não faltavam os corvos adejando. E a tal ponto, que S. Exa. se viu dentro em pouco esmagado sob o peso das suas asas, transformadas em moções que surgiam de todos os lados.

E eu que combati, cara a cara, o Govêrno do Sr. Álvaro de Castro, nesse dia pedi a palavra não para fazer coro com os corvos que pairavam à volta do Govêrno que ia cair, mas para lhe fazer justiça. Êsse Govêrno tinha feito uma obra tam grande de saneamento moral a bem da governação que eu não podia deixar nesse momento, de lhe enviar as minhas calorosas saudações de republicano.

Fui educado na escola da Democracia e um pouco também na escola do mar que eu não freqüentei, mas cujos ensinamentos colhi no meu lar, à sombra do meu pai, que com o mar lutou durante longos