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20 Diário da Câmara dos Deputados

ter de lhes bater, e já sabem que o farei se isso fôr necessário.

Cá estarei para os censurar se isso fôr preciso, com o mesmo «à vontade», amigo sempre deles, mas dizendo as verdades, porque é isso que convém à Nação.

Êste Govêrno foi criticado, sobretudo, por não representar as esquerdas, como se afinal a moção votada pelo meu Partido, para a constituição dêste Govêrno, não traduzisse em última análise senão a necessidade de se constituir um Govêrno saído do bloco.

Nós quisemos chamar-nos esquerdas para nos diferenciarmos das direitas e nem êste epíteto ofende aqueles que se chamam das esquerdas, nem aqueles que se chamam das direitas.

Mas, de facto, êste Govêrno, que uns supõem atrabiliário e outros mata-frades, não nos, aparece como essas santas almas queriam.

Ainda ontem tive ocasião de dizer que isto de esquerdas é uma cousa que nem toda a gente percebe.

Evidentemente que fez época a idea de que para ser das esquerdas era preciso' dizer: abaixo os jesuítas!

Era preciso ver em todas as manifestações de culto um desregramento e desvio -delas, para que então, em nome da liberdade, pudéssemos atacá-las. Mas não! Que diz êste Govêrno? Êste Govêrno diz que em matéria de cultos garantirá todos absolutamente. E o que queremos nós senão que um Govêrno diga isto?

Queremos retrogradar? ou temos uma mentalidade atrazada para que venhamos pedir ao Govêrno que persiga a religião? Não! Era indigno das esquerdas, era indigno do meu partido, que isso se quisesse fazer.

Eu tenho a certeza de que o Sr. Presidente do Ministério, que é um homem de leis, que tem formada a sua mentalidade, não está preso a idcas de Revolução Francesa, ideas - que na sua maior parte — talvez que alguns de V. Exas. o ignorem— foram apresentadas pelas direitas das Constituintes de então.

Porque êsse homem promete ao país não perseguir as crenças - promessa feita em nome dos princípios da democracia das esquerdas, se o querem, porque não há democracia nas direitas — a muitos causa engulhes que o Govêrno não seja constituído por homens que se dessem a perseguir irados, padres e freiras. Não! O Govêrno não entra nesse caminho, a daí vá de zurzir o Govêrno.

Mas, mais! E que até se bate nas pessoas que só não sentam nas cadeiras do Poder, como se uma pessoa, aparentada que fôsse com Sua Santidade, não possuísse competência para numa pasta das Finanças, dos Estrangeiros ou outra, pôr em prática princípios das esquerdas, princípios que se afirmam sobretudo em matéria financeira e económica e até em matéria internacional! E até uma cousa interessante é que êste Govêrno a êsse respeito encaminha-se claramente para as esquerdas.

E antes assim.

A acusação feita ao Govêrno foi a da aventura, que não existe; foi a da incompetência, que não provaram. Depois vá de falar em promessas ocas, em promessas atrabiliárias de intervencionismo exagerado do Estado em cousas interessantes; como seja a do Govêrno prometer comparticipar de algumas grandes Empresas, mormente naquelas cuja base inicial não poderia existir sem o Estado, como seria nas quedas de água.

O que tem isto de revolucionário?

O Estado dá a concessão, que tem um valor económico, e diz: por êsse valor económico, quere acções de participação.

O Sr. Vasco Borges (interrompendo): — Nada! Até mesmo porque isso não é novo. Foi uma política iniciada pelo Sr. Nuno Simões, quando Ministro do Comércio.

O Orador: — E que, segundo parece, V. Exa. não quere que continue!...

O Sr. Vasco Borges (interrompendo): — Perdão! Eu estou até de acordo com isso. Com o que eu não concordo é que venham apresentar isso como cousa nova.

O Orador: — Nem o Govêrno a apresenta como nova.

O Sr. Vasco Borges (interrompendo): — V. Exa. é que me parece querer concluir que se trata de uma cousa nova.