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Sessão de 28 de Novembro de 1924 19

anos, conhecendo a Nação mas desconhecendo o Estado.

O Govêrno do Sr. Rodrigues Gaspar caiu e caiu porque lhe faltou o apoio do «bloco» — bloco de pedra solta, lhe chamaram já — e hoje voltou a constituir-se um Govêrno também ainda saído do «bloco», Govêrno que bem pode amanhã, que bem pode daqui a poucos dias, merecer que eu diga muito mal dele. Por emquanto é cedo ainda.

Os canhotos apresentam-se ao Parlamento...

O Sr. Joaquim Ribeiro (interrompendo): — Não lhes chame nomes!

O Orador: — Mas êste é um nome que os honra.

Os canhotos, como ia dizendo, apresentam-se ao Parlamento, trazendo um programa de Govêrno onde não há êsses perigos bolchevistas que a êles em regra eram atribuídos. É duma serenidade absoluta essa declaração, igual ao que em regra, são as outras declarações, porque as declarações ministeriais — não sei se V. Exas. já repararam — são quási todas iguais, à semelhança das declarações de amor.

O Sr. Carvalho da Silva: — V. Exa. é que parece estar a fazer uma declaração de amor ao Govêrno...

Risos.

O Orador (continuando): — Sr. Presidente: a declaração ministerial, sob o ponto do vista literário, está mais bem feita do que as dos últimos tempos; mas no resto, repito, é semelhante às outras.

Eu sinto que esta rainha frase poderá fazer rejubilar os que fazem oposição ao Govêrno e adivinho-lhes o pensamento que lhes formula naturalmente a pregunta: — então, se essa declaração é igual às outras e não traz nada de novo, não seria mais prático tê-la copiado integralmente das declarações ministeriais dos gabinetes anteriores?

Mas há uma pequena diferença, e eu irei pô-la em destaque daqui a pouco, para honra da República e dos canhotos.

Sr. Presidente: o Govêrno do Sr. Rodrigues Gaspar caiu porque para bem do País era necessário que caísse. Eu justifico esta minha frase para que se não diga que ela não passa duma mera afirmação.

No Govêrno do Sr. Rodrigues Gaspar tiveram eclosão as negociações, por exemplo, acerca da questão da pesca.

A comissão, encarregada de, tratar dêsse assunto com a comissão espanhola, era constituída em termos que, sem ofensa para as qualidades morais e de honorabilidade das pessoas que nela entravam, deixava em suspenso a Nação, que tinha modo de que as negociações pudessem representar um prejuízo para o País.

Isto é fácil de ser reconhecido, porque consta até de documentos oficiais.

Pois bem. Êsse problema, que é máximo entre os maiores, não foi conhecido da Câmara. Apesar de contra tal atitude se terem feito várias declarações políticas, ganhámos nós, para bem da Nação.

Depois, o Govêrno dizia-nos que isto ia em maré de rosas; a felicidade ora uma cousa que começava a estontear as nossas cabeças, e as finanças uma cousa esplêndida. E ao mesmo tempo que nos dizia isto, por outro lado, afirmava que naturalmente teria de deixar de pagar (aos portadores da dívida. Foi esta uma das razões do meu voto, sem desprimor para os dotes de político e de homem inteligente que possui o Sr. Rodrigues Gaspar.

Demais a mais, houve um adjectivo que feriu um pouco a minha sensibilidade (e quem se devia ter melindrado muito com êle é o meu ilustre correligionário Sr. Portugal Durão) quando da partida da nossa velha prata para o estrangeiro.

Sr. Presidente: justificada assim a minha atitude, urge agora apreciar o novo Govêrno.

O aventureiro do Presidente do Ministério conhecemo-lo nós todos como um velho republicano, que foi Ministro tantas vezes como a pessoa que o acusou.

Mas não vale a pena estar a pegar nos Ministros para lhes encontrar dotes especiais.

Sr. Presidente: não vamos a elogiar muito os homens, porque eu que confio neles e que tenho esperança em todos os que ali se sentam pela primeira vez, sobretudo quando escrevem lindas declarações, posso ter não de me arrepender das palavras que agora digo, porque são ditas com toda a sinceridade, mas posso